Dom João José Costa- Arcebispo de Aracaju-SE
Começou o mês de setembro, que para nós católicos do
Brasil é o mês dedicado à Bíblia, desde 1971. É uma iniciativa digna de louvor.
Todavia, desde 1947, o Dia da Bíblia é comemorado no último domingo de
setembro. O mês de setembro foi escolhido como mês da Bíblia porque o dia 30 de
setembro é dia em que a Igreja celebra a memória de São Jerônimo, que nasceu em
340 e faleceu em 420 da era cristã.
São Jerônimo foi um grande biblista, doutor
da Igreja, e a ele coube, a pedido do Papa Dâmaso, de quem foi secretário,
traduzir a Bíblia dos originais (hebraico e grego) para o latim, que naquela
época era a língua falada no mundo dito civilizado, e usada na liturgia da
Igreja. A tradução realizada por São Jerônimo é chamada de Vulgata. Foi um
trabalho gigantesco que durou cerca de 35 anos.
A denominação Vulgata consolidou-se na
primeira metade do século XVI, sobretudo a partir da edição da Bíblia de 1532,
tendo sido definitivamente consagrada pelo Concílio de Trento, em 1546. O
Concílio estabeleceu um texto único para a Vulgata a partir de vários
manuscritos existentes, o qual foi ratificada mais uma vez como a Bíblia
oficial da Igreja, confirmando assim os outros concílios desde o século II, e a
essa versão ficou conhecido como Vulgata Clementina.
Atualmente a Igreja Católica utiliza a “Nova
Vulgata”, recentemente traduzida conforme os métodos científicos mais modernos.
Na verdade, após o Concílio Vaticano II, por determinação de Paulo VI, foi
realizada uma revisão da Vulgata, sobretudo para uso litúrgico. Esta revisão,
terminada em 1975, e promulgada pelo Papa João Paulo II, em 25 de abril de
1979, é denominada Nova Vulgata e ficou estabelecida como a nova Bíblia oficial
da Igreja Católica .
No Brasil, para o uso litúrgico, é empregada
a “Bíblia Sagrada Tradução da CNBB”, que em sua apresentação informa: “Foi
levada em consideração, sistematicamente, a nova tradução oficial [a Nova]
‘Vulgata’. Como recomenda o Concílio Vaticano II (Dei Verbum, n. 22), a
tradução se baseia, pois, nos textos originais hebraicos, aramaicos e gregos,
cotejados criteriosamente com a Nova Vulgata, ela mesma baseada nos documentos
originais”.
Hoje, a Bíblia é o único livro que está
traduzido em praticamente todas as línguas do mundo e está em quase todas as
casas da cristandade. A Bíblia é, de longe, o livro mais vendido, distribuído e
impresso em toda a história da humanidade.
A Bíblia – Palavra de Deus – é o fruto da
comunicação entre Deus que se revela e a pessoa que acolhe e responde à
revelação. Por isso, pode-se dizer que a Bíblia relata a história de um povo, o
Povo de Deus, que teve o dom de interpretar sua realidade à luz da presença de
Deus e compreender que a vida é um projeto de amor que parte de Deus e volta
para Ele.
Nesse mês da Bíblia, somos convidados a
estudar e refletir sobre esse maravilhoso livro que tem tanto a nos revelar e
instruir. Todos os católicos devem ler e procurar compreender as mensagens de
Deus para nós, que foram escritas por escritores sagrados sob a inspiração do
Espírito Santo.
O que significam as palavras de Deus
contidas na Bíblia, para nós? A resposta pode muito bem ser buscada no seguinte
versículo: “Quão saborosas são para mim vossas palavras, mais doces que o mel à
minha boca” (Sl 118, 103). Assim são as palavras de Deus, que nos foram transmitidas e que nelas
devemos pautar as nossas vidas. As palavras de Deus alumiam o nosso viver, a
nossa caminhada em busca da santificação. Diz, ainda uma vez, o salmista:
“Vossa palavra é um facho que ilumina meus passos. E uma luz em meu caminho”
(Sl 118, 105).
Conhecer a Palavra de Deus é fundamental
para todo cristão. A Carta aos hebreus diz que “a Palavra de Deus é viva,
eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até à divisão
da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções
do coração” (Hb 4,12).
Jesus conhecia profundamente a Sagrada
Escritura e a citava. Isso é mais do que suficiente para que todos nós façamos
o mesmo. Na tentação do deserto ele venceu o demônio lançando em seu rosto, por
três vezes, a santa Palavra. Quando o tentador pediu que Ele transformasse as
pedras em pães, para provar Sua filiação divina, Jesus lhe disse: “O homem não
vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor” (Dt 8,3). Quando o
tentador exigiu que Ele se jogasse do alto do templo, Jesus respondeu: “Não
tentarás o Senhor vosso Deus” (Dt 6,16a). E quando Satanás tentou fazer com que
Ele o adorasse, ouviu mais uma vez a Palavra de Deus: “Adorarás o Senhor, teu
Deus, e só a ele servirás” (Dt 6,13).
O demônio não tem força diante da Palavra de
Deus lançada em seu rosto; por isso, cada um de nós precisa conhecer o poder
dela. É preciso ler e estudar a Bíblia regularmente, e, se possível, todos os
dias; aquecer o coração e a alma com um trecho dela; e saber usá-la nos
momentos de dor, dúvida, angústia, medo, tomada de decisão, louvor,
agradecimento, súplsúplica etc. Abra a Palavra, deixe Deus falar ao seu
coração. E fale com Deus. Ler a Palavra é a maneira mais fácil de rezar.
Desse o Senhor servindo-se da boca do
profeta Isaías: “Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não voltam sem
ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o
grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere:
não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado a minha vontade e
cumprido a sua missão” (Is 55,10).
A palavra de Deus é transformadora,
santificante. São Paulo explica isso a Timóteo, com toda convicção: “Toda a
Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para persuadir, para
corrigir e formar na justiça” (2Tm 3,16).
A Palavra de Deus é, portanto, um
instrumento indispensável para a nossa santificação. Não conseguiremos ter “os
mesmos sentimentos de Cristo” (Fil 2,5) sem ouvir, ler, meditar, estudar e
conhecer a sua santa palavra. São Jerônimo, dizia que “quem não conhece o
Evangelho não conhece Jesus Cristo”.
É preciso estudar a Bíblia, fazer cursos
bíblicos, porque nem sempre sua leitura é fácil de ser compreendida. Ela não é
um livro de ciência, mas, sim, de fé. Utilizando os mais diversos gêneros
literários, ela narra acontecimentos da vida de um povo guiado por Deus,
atravessando os mais variados contextos sociais, políticos, econômicos etc. Por
isso, a Palavra de Deus não pode sempre ser tomada ao “pé da letra”, embora
muitas vezes o deva ser. “Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Cor
3,6).
Fonte: CNBB- NORDESTE 3 - LINK: https://www.cnbbne3.org.br/15737-2/
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