domingo, 17 de março de 2019

II DOMINGO DA QUARESMA




São Cirilo de Alexandria, bispo e doutor da Igreja (séc. V)





Sermão 9 na Transfiguração do Senhor







“Falavam da morte que Jesus consumaria em Jerusalém”

Jesus subiu à montanha com seus três discípulos preferidos. Ali se transfigurou em um resplendor tão maravilhoso e divino, que suas vestes pareciam feitas de luz. A eles apareceram também Moisés e Elias conversando com Jesus: falavam de sua morte que se consumaria em Jerusalém, ou seja, do mistério daquela salvação que iria realiza-se mediante seu corpo; daquela paixão, repito que haveria de consumar-se na cruz. Pois a verdade é que a lei de Moisés e os vaticínios dos santos profetas preanunciaram o mistério de Cristo: as tábuas da lei o descreviam como que em imagem e de forma velada; os profetas, por outro lado, o pregaram em distintas ocasiões e de muitas maneiras, dizendo que no momento oportuno apareceria na forma humana e aceitaria morrer na cruz pela salvação e pela vida de todos.
E o fato de que ali estivessem presentes Moisés e Elias conversando com Jesus, queria indicar que a lei e os profetas são como dois aliados de Nosso Senhor Jesus Cristo, apresentado por eles como Deus através das coisas que haviam preanunciado e sobre as quais existia concordância entre si. De fato, os vaticínios dos profetas não discordam da lei: e a meu modo de ver, disto falavam Moisés e Elias, o maior dos profetas.
Tendo-se manifestado, não se mantiveram em silêncio, mas falavam da glória que o próprio Jesus iria consumar em Jerusalém, a saber: da paixão e da cruz, e nelas, vislumbravam também a ressurreição. O bem-aventurado Pedro, talvez pensando que tinha chegado o tempo do reinado de Deus, de bom grado ficaria vivendo na montanha; de fato, e sem saber o que dizia, propõe que se ergam três tendas. Porém, ainda não tinha chegado o fim dos tempos, nem na vida presente entrarão os santos a participar da esperança a eles prometida. Disse, de fato, Paulo: Ele transformará nossa humilde condição, conforme o modelo de sua condição gloriosa, ou seja, da condição gloriosa de Cristo. 
Contudo, estando estes planos apenas começados, e não tendo ainda chegado ao seu ápice, seria uma incoerência que Cristo – que por amor tinha vindo ao mundo – abandonasse o projeto de padecer voluntariamente por ele. Conservou, pois, aquela natureza material, com a qual padeceu a morte segundo a carne, e apagou-a por sua ressurreição dentre os mortos.
De outra forma, e à margem desde admirável e arcano espetáculo da glória de Cristo, ocorreu também outro fato útil e necessário para consolidar a fé em Cristo, não só a dos discípulos, mas também a nossa. Lá, no alto, realmente ressoou a voz do Pai que dizia: Este é meu Filho amado, Escutai-o.       




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