domingo, 10 de março de 2019

I DOMINGO DA QUARESMA

Irmãos caríssimos em Cristo, tendo iniciado o tempo da Quaresma, todos nós, membros da Igreja peregrina de Jesus, somos convidados, uma vez mais, a uma mudança radical em nossa trajetória de vida. Em uma primeira análise, a palavra "radical" nos parece demasiadamente desmoderada, ou, exagerada. Porém, Engana-se quem pensa como tal, pois a opção  fundamental de todos os filhos de Deus, deve ser unicamente a Pessoa de Jesus Cristo, nossas ações e palavras, bem como o nosso pensar devem convergir em uma única e mesma direção, a de Cristo. Nos lembra o Papa São João Paulo II, em sua Carta Encíclica, Veritatis Splendor: "Seguir  a Cristo não é uma imitação exterior, já que atinge o homem na sua profunda interioridade. Ser discípulo de Jesus significa tornar-se conforme a Ele, que se fez servo até o dom de si sobre a Cruz".
Para melhor meditarmos os Evangelhos dominicais que se procederão, destacaremos a cada Domingo do Senhor, uma meditação de um Padre da Igreja, homens dos primeiros séculos do Cristianismo que souberam conservar a Fé recebida dos Apóstolos e transmiti-la com fidelidade, santidade de vida e testemunho pastoral. Estas meditações são um verdadeiro tesouro que juntos partilharemos a cada semana que se prosseguirá, rumo à Páscoa do Senhor Jesus. 

Evangelho: Lucas 4, -13

São João Crisóstomo, doutor da Igreja (Século V)



"Jesus jejuou não porque necessitasse, mas para instruir-nos"

Então foi Jesus levado ao deserto pelo Espírito para ser tentado pelo diabo. Então, quando? Depois de ter descido o Espírito Santo; depois daquela voz descida dos Céus que dizia: Este é meu Filho amado e quem ponho minhas complacências. E o que é mais incrível: foi levado pelo Espírito Santo, porque foi o próprio Espírito quem o levou ao deserto. Cristo vinha para ensinar-nos, e para isto, fazia e padecia tudo. Por isso quis ser levado ao deserto e entrar nesta batalha com o demônio, para que cada um dos seus batizados, se após o batismo padece maiores tentações, não se perturbe como se experimentasse o inesperado, mas permaneça firme no padecer, pois tudo lhe acontece conforme a reta ordem das coisas. Para isto tomas-te as armas: não ficar ocioso, mas para combater.
Deus não impede que as tentações sejam lançadas sobre nós, em primeiro lugar para que vejas que te fez muito mais forte. Além do mais, para que não te estimes excessivamente, e não te ensoberbeça pela grandeza do dom que te foi conferido. Visto que as tentações te mantém em humildade. Também para que o demônio maligno duvidando se é verdade que renunciaste a ele, pela experiencia das tentações se confirme que tudo lhe apartaste. Em quarto lugar, para que assim te forjes, mais duro e mais forte que o ferro. Em quinto lugar, para que com isso tenhas a demonstração do grande tesouro que te foi confiado. O demônio não te atacarias se não te visse colocado nas mais altas honras.
Tal foi o motivo pelo qual nas origens se levantou contra Adão, pois o via desfrutando de alta dignidade. Pela mesma razão se levantou contra Jó, ao vê-lo recompensado e louvado pelo Deus de todos. Por que Jesus disse: Orai para que não caias em tentação? Por isso não nos é apresentado a Jesus indo espontaneamente para a tentação, mas levado de acordo com uma razoável providência, dando-nos a entender que não devemos expor-nos, mas se somos levados à tentação, resistamos a ela com fortaleza.
Considera aonde o Espírito Santo o levou: não para uma cidade, nem para uma praça, mas ao deserto. Como o demônio queria bajulá-lo e atraí-lo, o Espírito Santo lhe apresenta a ocasião, não somente pelo aspecto da fome, mas também pelo próprio lugar. O demônio nos ataca especialmente quando nos vê sozinhos e quando andamos afastado dos outros. Assim atacou a mulher nas origens, aproximando-se dela quando estava só, sem  seu marido. Quando ele vê a vários reunidos, não  se atreve a atacar. Por isto convém que com frequência nos congreguemos, para que não sejamos presas fáceis do diabo. 
O demônio encontrou, pois, a Jesus no deserto, e em uma região inóspita e sem trilhas. Que assim eram aquelas paragens, o refere Marcos dizendo: E morava entre as feras.  Porém adverte com quanta astúcia e perversidade se aproxima dele e que ocasião escolhe. Não ataca a Jesus enquanto está jejuando, mas quando teve fome, para que aprendas que grande bem é o jejum, e que arma tão poderosa contra o demônio; e que depois do batismo não te entregues aos prazeres, nem à embriaguez, nem às iguarias, mas ao jejum. Por isso Jesus jejuou, não porque ele necessitasse, 
 mas para instruir-nos.

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