sexta-feira, 15 de maio de 2015

ASCENSÃO: ELEVAÇÃO, NÃO DESPEDIDA


A ascensão do Senhor aos céus está dentro do Mistério Pascal. O Senhor ressuscitou dos mortos dando a natureza humana uma nova forma de vida, que não pode mais experimentar a morte. Depois de um tempo de aparições aos seus discípulos, o Ressuscitado ascende aos céus levando a natureza humana à glória da eternidade. Mas, a ascensão não separou Jesus dos seus amigos. Ele continua presente pela força do Espírito Santo que foi dado a Igreja. Assim, partindo da ressurreição podemos entender o mistério da ascensão e da permanência do Senhor em nosso meio.


 A Ressurreição de Jesus trouxe para o homem, em toda sua totalidade – corpo e alma – a vida eterna. Deus se fez carne, assumindo toda a nossa natureza. Ele sofreu a Paixão e a morte, purificando nossa humanidade da desobediência do pecado e ressuscitou libertando, essa mesma humanidade, das forças da morte. Nosso Senhor realizou, assim, o desejo do Pai: dá ao homem a graça de contemplar a sua face, de alcançar a visão beatífica. Em comunhão com o Ressuscitado, o desejo de contemplar o Infinito, o Eterno, presente no homem, pode ser saciado, torna-se realidade. 

Quarenta dias depois da ressurreição, Jesus se eleva aos céus. Segundo Santo Agostinho no Sermão sobre a Ascensão do Senhor, o Verbo de Deus volta para onde nunca saiu. Mas Ele volta como Verbo Encarnado, levando a natureza humana para o seio da Trindade: o homem a habita em Deus. Cristo não somente assumiu a natureza humana no tempo e no espaço, pois uma vez assumida, leva-a para a eternidade. Isso é possível porque o corpo ressuscitado, não estava preso às propriedades e limitações do espaço e do tempo. 

Vê-se, então, que a ressurreição não foi simplesmente a volta à uma vida biológica, mas o início de uma nova forma de viver. Vemos isso nas aparições do Ressuscitado aos discípulos. Muitos não o reconhecem logo de início e Ele aparece mesmo onde as portas estão fechadas. Todavia, para não cairmos no equívoco de dizer que a ressureição foi apenas espiritual, e dessa forma a ascensão de Cristo não teria elevado o homem em toda sua totalidade, nas aparições Jesus pede que os discípulos o toque para verem que ele não é um fantasma (cf. Lc 24,39) e pede alguma coisa para comer (cf. Lc 24,42). Assim, mesmo eternizado o corpo ressuscitado, com sua nova vida, tem as propriedades corporais.

Dessa forma, o Senhor sobe aos céus levando, como propriedade sua, a totalidade da natureza humana. Mas, com a ascensão, Ele não se ausenta da vida dos discípulos: a presença do Ressuscitado permanece. Podemos aprofundar esse mistério a partir do relato da ascensão segundo o evangelista São Lucas (cf. Lc 24,50-52). Segundo ele, depois da ascensão os discípulos não se entristeceram, veem Jesus subindo aos céus, mas seus corações ficam alegres e com esse entusiasmo voltam para Jerusalém. Logo, eles tinham uma certeza: a ascensão não foi uma despedida, eles não estavam em Betânia para se despedirem de Jesus. A ascensão foi o começo de uma nova forma de presença, Cristo, o Ressuscitado, o Vivente, nunca os deixará: “eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20b). 

Durante quarenta dias eles fizeram a experiência dos encontros com o Senhor ressuscitado. Esses encontros não acabaram, perpetuar-se-ão por meio da força que vem do Alto: o Espírito Santo, que procede do amor do Pai e do Filho, do amor que Ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Lc 24,49b; At 1,8). Segundo Hans U. V. Balthasar, em sua obra Teologia da História, depois da ascensão o encontro com o ressuscitado é sacramental. A Igreja é o primeiro sacramento, a principal presença do Ressuscitado em nosso meio, pois foi ela, reunida no Cenáculo em oração no dia de Pentecostes (cf. At 3,2-4), que recebeu o Espírito que continuamente a vivifica. Dessa forma, os sacramentos – como ações do Espírito Santo na Igreja – são encontros com o Ressuscitado que continua a aparecer em nosso meio, de uma forma diferente, mas não menos impactante e vivificante: O homem habita em Deus e Deus habita no homem pela força do Espírito Santo.

O Senhor subiu, mas os discípulos não precisavam ficar parados olhando para as nuvens para evocar sua presença, um dia ele retornará como ascendeu (cf. At 1,11). Mas, enquanto aguardamos essa visão, ele permanece no meio de nós, seu Espirito Santo nos leva constantemente a fazermos a experiência que os discípulos tiveram nos quarenta dias e que continuaram a fazer depois de Pentecostes. Portanto, ao longo da história, e ainda hoje, os encontros com o Ressuscitado acontecem e continuam a mudar a vida de muitos homens e mulheres, a ponto de darem suas vidas por aquele que os encontrou. Pois esses encontros os levam a verdadeira vida: a vida em Deus, à visão beatífica com todo o seu ser ressuscitado à semelhança de Jesus.






Manoel Messias Dias Santos

2º ano de Teologia

Diocese de Estância-SE

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