A ascensão do Senhor aos céus está dentro do
Mistério Pascal. O Senhor ressuscitou dos mortos dando a natureza humana uma
nova forma de vida, que não pode mais experimentar a morte. Depois de um tempo
de aparições aos seus discípulos, o Ressuscitado ascende aos céus levando a
natureza humana à glória da eternidade. Mas, a ascensão não separou Jesus dos
seus amigos. Ele continua presente pela força do Espírito Santo que foi dado a
Igreja. Assim, partindo da ressurreição podemos entender o mistério da ascensão
e da permanência do Senhor em nosso meio.
A Ressurreição de Jesus trouxe para o
homem, em toda sua totalidade – corpo e alma – a vida eterna. Deus se fez
carne, assumindo toda a nossa natureza. Ele sofreu a Paixão e a morte,
purificando nossa humanidade da desobediência do pecado e ressuscitou
libertando, essa mesma humanidade, das forças da morte. Nosso Senhor realizou,
assim, o desejo do Pai: dá ao homem a graça de contemplar a sua face, de
alcançar a visão beatífica. Em comunhão com o Ressuscitado, o desejo de
contemplar o Infinito, o Eterno, presente no homem, pode ser saciado, torna-se realidade.
Quarenta dias depois da ressurreição,
Jesus se eleva aos céus. Segundo Santo Agostinho no Sermão sobre a Ascensão do Senhor, o Verbo de Deus volta para onde
nunca saiu. Mas Ele volta como Verbo Encarnado, levando a natureza humana para
o seio da Trindade: o homem a habita em Deus. Cristo não somente assumiu a
natureza humana no tempo e no espaço, pois uma vez assumida, leva-a para a
eternidade. Isso é possível porque o corpo ressuscitado, não estava preso às
propriedades e limitações do espaço e do tempo.
Vê-se, então, que a ressurreição não
foi simplesmente a volta à uma vida biológica, mas o início de uma nova forma
de viver. Vemos isso nas aparições do Ressuscitado aos discípulos. Muitos não o
reconhecem logo de início e Ele aparece mesmo onde as portas estão fechadas. Todavia,
para não cairmos no equívoco de dizer que a ressureição foi apenas espiritual,
e dessa forma a ascensão de Cristo não teria elevado o homem em toda sua
totalidade, nas aparições Jesus pede que os discípulos o toque para verem que
ele não é um fantasma (cf. Lc 24,39) e pede alguma coisa para comer (cf. Lc
24,42). Assim, mesmo eternizado o corpo ressuscitado, com sua nova vida, tem as
propriedades corporais.
Dessa forma, o Senhor sobe aos céus
levando, como propriedade sua, a totalidade da natureza humana. Mas, com a
ascensão, Ele não se ausenta da vida dos discípulos: a presença do Ressuscitado
permanece. Podemos aprofundar esse mistério a partir do relato da ascensão
segundo o evangelista São Lucas (cf. Lc 24,50-52). Segundo ele, depois da
ascensão os discípulos não se entristeceram, veem Jesus subindo aos céus, mas
seus corações ficam alegres e com esse entusiasmo voltam para Jerusalém. Logo,
eles tinham uma certeza: a ascensão não foi uma despedida, eles não estavam em
Betânia para se despedirem de Jesus. A ascensão foi o começo de uma nova forma
de presença, Cristo, o Ressuscitado, o Vivente, nunca os deixará: “eis que estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos” (Mt 28,20b).
Durante quarenta dias eles fizeram a
experiência dos encontros com o Senhor ressuscitado. Esses encontros não
acabaram, perpetuar-se-ão por meio da força que vem do Alto: o Espírito Santo,
que procede do amor do Pai e do Filho, do amor que Ressuscitou Jesus dos mortos
(cf. Lc 24,49b; At 1,8). Segundo Hans U. V. Balthasar, em sua obra Teologia da História, depois da ascensão
o encontro com o ressuscitado é sacramental. A Igreja é o primeiro sacramento, a
principal presença do Ressuscitado em nosso meio, pois foi ela, reunida no
Cenáculo em oração no dia de Pentecostes (cf. At 3,2-4), que recebeu o Espírito
que continuamente a vivifica. Dessa forma, os sacramentos – como ações do
Espírito Santo na Igreja – são encontros com o Ressuscitado que continua a
aparecer em nosso meio, de uma forma diferente, mas não menos impactante e
vivificante: O homem habita em Deus e Deus habita no homem pela força do
Espírito Santo.
O Senhor subiu, mas os discípulos não
precisavam ficar parados olhando para as nuvens para evocar sua presença, um
dia ele retornará como ascendeu (cf. At 1,11). Mas, enquanto aguardamos essa
visão, ele permanece no meio de nós, seu Espirito Santo nos leva constantemente
a fazermos a experiência que os discípulos tiveram nos quarenta dias e que
continuaram a fazer depois de Pentecostes. Portanto, ao longo da história, e
ainda hoje, os encontros com o Ressuscitado acontecem e continuam a mudar a
vida de muitos homens e mulheres, a ponto de darem suas vidas por aquele que os
encontrou. Pois esses encontros os levam a verdadeira vida: a vida em Deus, à
visão beatífica com todo o seu ser ressuscitado à semelhança de Jesus.
Manoel Messias Dias Santos
2º ano de Teologia
Diocese de Estância-SE
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