quarta-feira, 24 de agosto de 2016

REFLEXÃO SOBRE O CELIBATO


REFLEXÃO SOBRE O CELIBATO A PARTIR DE Mt 19, 12

Pois há homens incapazes para o casamento porque assim nasceram do ventre da mãe; há outros que assim foram feitos pelos homens, e há aqueles que assim se fizeram por amor do reino dos céus. Quem puder entender, que entenda”.
Este versículo nos coloca dentro da dimensão da vocação, especialmente neste mês de agosto em que a Igreja em nosso país reflete sobre os vários tipos de vocações. Para abraçar uma vocação é preciso ter a consciência que ganharemos, mas que também perderemos. Neste pequeno texto Jesus nos aponta a adesão ao celibato como uma resposta de amor ao Reino dos Deus. Para muitos é uma perda abraça-lo, para outros é abraçar uma grande riqueza que a Igreja conserva. Na sociedade hodierna parece algo banal, para aqueles que defendem o casamento dos padres parece somente uma regra disciplinar ou um peso que a Igreja colocou para quem abraça essa vocação, no entanto para aqueles que querem configurar-se a Cristo é algo muito profundo.

Resultado de imagem para castidadeEm Mt 19, 29 Jesus diz: E todo aquele que deixar casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos por amor de meu nome, receberá cem vezes mais e possuirá a vida eterna.” Aqui Jesus ainda é mais enfático ao dizer que aqueles que deixam a oportunidade de constituir uma família por amor ao seu nome receberá cem vezes mais e possuirá a vida eterna. E isso se cumpre nas nossas missões e nas nossas pastorais. São os carinhos que Deus, no decorrer da nossa jornada, vai demonstrando para cada um de nós através de pessoas simples que torcem por nós e rezam para que sejamos bons padres, padres felizes que em simples gestos demonstram o amor de Deus.
O convite do Nosso Senhor, quando nos chamou e nos escolheu, não foi somente para partir, mas para sermos discípulos, isto é, partir atrás, seguir por um caminho que Ele mesmo vai traçar. Isso pode indicar profunda imaturidade, mas também uma grande liberdade interior. A tentação sempre estará presente em nossa caminhada, porém se temos liberdade interior, aquela liberdade de fazer tudo aquilo que está de acordo com o chamado de Deus, venceremos as tentações e se caímos nelas teremos forças para recomeçar.
O Papa Paulo VI na sua encíclica sobre o Celibato Sacerdotal nos aponta três sentidos profundos a respeito do celibato:
O primeiro sentido é o cristológico. Aqui alguns colocam objeções ao dizer que São Pedro, o primeiro papa, era casado e o próprio Jesus o chamou. A Igreja responde que o primeiro modelo para os seminaristas e padres não é um apóstolo e etc, mas o próprio Cristo. Neste primeiro sentido algumas perguntas devem mexer conosco: Será que temos consciência que estamos imitando Cristo? Será que queremos imitar Cristo não somente na vivência do celibato, mas em todos os seus atos? Por que podemos muito bem abraçar o celibato como Cristo, mas sermos padres rancorosos, padres que tratam as pessoas com indiferença e não é isso que Cristo quer. Cristo nos quer por inteiro, quer que vivenciemos aquilo que abraçamos com amor e não forçadamente.
O segundo sentido é o eclesiológico. Imitando Cristo nos entregamos também à Igreja. A Igreja precisa de nós por inteiro, precisa de nós por inteiro para chegar a mais pessoas e levar o seu esposo: Cristo. Alguns questionamentos surgem também aqui: será que queremos realmente o bem da Igreja ou queremos nos aproveitar dela? Será que temos a coragem de defendê-la em todas as situações ou somos os primeiros a jogar pedras?
O terceiro e último sentido é o escatológico, que é fundamental. Numa passagem da Escritura Cristo diz que no céu ninguém se casa nem se dá em casamento. Então, vivendo o celibato o sacerdote antecipa o céu aqui na terra. No ano sacerdotal, um padre da Eslováquia fez uma pergunta para o Santo Padre Bento XVI e disse que mesmo com as dificuldades naturais, o celibato lhe parecia óbvio ao olhar para Cristo, mas que se sentia transtornado ao ler tantas críticas mundanas a respeito deste dom. E o santo padre lhe respondeu: “é verdade que para o mundo agnóstico, o mundo no qual Deus não tem lugar, o celibato é um grande escândalo, porque mostra precisamente que Deus é considerado e vivido como realidade”. Que resposta belíssima! Mas será que valorizamos realmente este dom e temos a consciência que vivenciando-o estamos mostrando para o mundo que Deus é considerado e vivido como realidade?
Resultado de imagem para castidadeEntregar a direção da nossa vida a um outro alguém para traçar um caminho onde não conhecemos o percurso e as vicissitudes que ele nos apresenta não é fácil, mas tenhamos a certeza que a promessa que Nosso Senhor fez e faz se cumpre na nossa vida: receberemos cem vezes mais e possuiremos a vida eterna e ainda mais: anteciparemos o céu aqui na terra. Neste sentido o celibato não é obrigação, mas algo que deve ser abraçado como dom e vivenciado com amor.
O Beato Charles de Foucauld dizia que “o amor é inseparável da imitação. Quem ama quer imitar: é o segredo da minha vida”. Imitemos Cristo não só em palavras, mas com a nossa vida abraçando com amor e doação o que Ele abraçou.

Que a Virgem Maria nos ajude a imitar o seu Filho e nos ajude a responder os seguintes questionamentos: e eu, o que perdi por Jesus, o que deixei realmente por Ele? Tenho a coragem de deixar muitas coisas que atrapalham minha caminhada e de deixar-me por Ele? Quero assumir livremente o celibato para me dedicar às coisas do Pai e do seu Reino? 
Por Sem. Jorge Frances
4º Ano de Teologia
Diocese de Estância/SE



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