“Quando a noite ia no meio do seu curso e um silêncio profundo envolvia o universo, a tua palavra todo-poderosa desceu do seu trono real para a terra” (Antiga antífona de intróito do domingo dentro da oitava do Natal baseada no livro da Sabedoria 18, 14- 15).
Queridos irmãos e irmãs,
O Natal é a festa da Palavra. Nós, cristãos, acreditamos que uma Palavra revelou: o mundo está ‘grávido’ de Deus. O nascimento de Jesus é a manifestação desse mistério da presença divina na história. Atualmente, nossa sociedade está inflacionada por muitas palavras e imagens. Tende a tornar a comunicação uma mera publicidade comercial. Por isso, mais do que nunca, nós que cremos que a Palavra Divina se fez carne somos chamados/as a testemunhar a importância e a centralidade desta Palavra em nossas vidas e na nossa fé.
O mundo atual se debate em uma grave crise econômica, ética e cultural. Em vários países, setores da juventude têm ido às ruas e praças para pedir outra forma de organizar o mundo que não seja a partir do mercado e do lucro privado de minorias, ao custo do desemprego e do sofrimento de multidões. É uma situação de escuro, na qual não se vislumbra um futuro promissor. Como na noite do Êxodo bíblico da qual fala o livro da Sabedoria e a noite na qual nasceu Jesus em Belém, a Palavra de Deus pode ser luz e servir de orientação para que o mundo resolva seus conflitos no diálogo e no respeito ao direito de todos.
Hoje, o Natal vai além da sua importante dimensão religiosa. Serve também de ocasião para que as pessoas se confraternizem e expressem umas às outras o seu bem-querer. Isso é bom e humano. Mesmo como festejo popular e simplesmente civil, o Natal pode ser uma feliz ocasião de vivermos um encontro com as outras pessoas e isso está dentro do espírito da celebração. Afinal, damos presentes uns aos outros porque recebemos de Deus o primeiro e maior presente. Podemos viver essa troca de presentes e de cartões desejando feliz Natal sem ceder ao comercialismo que tenta fazer da festa mera ocasião de mais lucro e consumismo. O Natal pode ser uma excelente contribuição do cristianismo para toda a humanidade, se esta festa puder ser ocasião para se celebrar o diálogo e a amizade humana, sinais privilegiados de que, em cada pessoa humana, há uma dimensão divina.
Celebramos este Natal de 2011, às vésperas do início das comemorações do 50º aniversário do Concílio Vaticano II que trouxe à Igreja e ao mundo, como disse o papa João XXIII, um novo Pentecostes. Neste cinquentenário do Concílio, a nossa arquidiocese está vivendo um momento novo e fecundo. Os seis Vicariatos e as doze Comissões Arquidiocesanas de Pastoral estão elaborando para nossa Igreja particular um novo Plano de Pastoral que aplicará à nossa região as diretrizes pastorais da CNBB (DGAE) e nos ajudará a sermos cada vez mais uma Igreja discípula de Jesus e missionária, no testemunho do reino de Deus no mundo. O objetivo desse plano é assegurar que nossa palavra seja expressão da Palavra Divina que nos foi dada no Natal. O Plano de Pastoral deve fazer com que a nossa palavra seja, como diz o Evangelho, acompanhada pelos sinais concretos que realizamos (Cf. Mc 16, 20).
A encarnação de Jesus em nosso mundo aparecerá hoje se nos tornarmos, cada vez mais humanos e capazes de dialogar e de viver em comunhão. O mundo reconhecerá essa presença de Jesus no meio de nós se nossas vidas se tornarem sempre mais a serviço da humanidade. Assim, testemunharemos que, dentro de nós mesmos e nesse mundo que jaz na escuridão, há um presépio, no qual descansa não mais o menino Jesus e sim o Cristo ressuscitado, na forma dos rostos concretos das pessoas com as quais convivemos e que encontramos no hoje de nossas vidas.
Que a luz do amor divino rompa todas as escuridões, de nossos corações e das estruturas do mundo. Com este desejo imenso de viver o idioma do diálogo como cântico universal do Natal, saúdo de coração a todos os fiéis da nossa arquidiocese, a todos os irmãos e irmãs de outras Igrejas cristãs que, conosco celebram que o Verbo Divino se fez carne e a todas as pessoas de boa vontade. A todos/as, desejo um Feliz Natal!
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife – PE
Fonte: CNBB
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