sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Ser ou não ser? Existir!


Na era do cientificismo, da tecnologia, da globalização e da industrialização, tudo possui nuances pragmáticas. A informação, o lazer, as relações, a educação e o conhecimento estão sendo produzidos mecanicamente e com fins comerciais. O ser, porém, segundo essa lógica vigente, tem pouco espaço nas reflexões, haja vista que essa reflexão metafísica reclama elucubrações para as quais poucos estão dispostos a dedicar tempo.

Tantos dramas sociais estão originados em crises existenciais individuais que se reverberam numa espécie de contágio da consciência coletiva. William Shakespeare (1564-1616), dramaturgo inglês, na célebre peça “Hamlet” vaticinava a problemática numa questão sobre a possibilidade de ser ou não ser. Essa pergunta sobre o próprio ser toma, então, macro-proporções em todas as dimensões da vida porque põe os fundamentos da existência numa averiguação ontológica. Entretanto, muito embora seja uma provocação aguilhoada, quem se expõe aos seus riscos escreve os preâmbulos de uma trajetória que se encaminha para a indemnidade, ou seja, para um ressarcimento pelo esforço empenhado, para a plenitude. 
O filósofo francófono Jean Paul Sartre (1905-1980) assevera o contrário ao dizer que a existência precede a essência. Isto é, segundo Sartre é o existir que define a essência. Isso implica dizer que não existe uma natureza que configura a essência do homem. Entretanto, cada um, existindo, vai construindo, definindo a sua essência, livre e responsavelmente. O sujeito deveria ocupar-se em construir seu eu, enquanto gasta tempo perguntando-se sobre sua essência. Longe disso se experimenta náuseas. Parece absurdo? Sim, é! É exatamente assim que Sartre denominava a percepção da inexistência do ser no prospecto objetivo.

A honestidade, a responsabilidade, a verdade, valores e rótulos projetados nos outros, por exemplo, desde amantes e amigos até servidores públicos e políticos, às vezes, decepcionam e, à vista disso, o ser e a existência aparecem então como contrários: diz que “é”, mas instaura-se um vácuo na existência porque a manifestação do não-ser é impossível, restando então o nada. Isso é uma crise existencial. O ser é assenhoreado de um ceticismo albergando-se num desconforto espacial ao passo que se compreende como “eu” e, por conseguinte, no “outro”, até mesmo naqueles que nunca se ocuparam com as mais simples noções de ontologia.
Em tempos de divergências entre existencialismo e ontologia, vale lembrar que “o existencialismo é um humanismo”. É Sartre quem diz e assim intitula uma de suas obras.  Acreditar nisto coloca o sujeito frente ao ser, ao não-ser e ao existir. O que fazer com essas possibilidades? Construir! Se no pragmático mundo do virtual, da técnica, da corrupção, da falta de amor, da violência e da morte falta o ser, o homem ao fazer existir (-se), como sujeito real, artesanal, honesto, amante, pacífico e vital, enfim, parece encontrar o produto positivo de uma equação filosófica que se demonstra sutilmente na “lousa” pública que é a vida. Existir sem medo do ser cura a náusea, preenche o nada, provocando efeito valorativo em cada ação da existência do “eu” que migra da crise existencial para uma satisfação ontológica.










Seminarista João Kennedy  
Arquidiocese de Aracaju-SE
4º período de Filosofia.

Nenhum comentário: