Na era do cientificismo, da tecnologia,
da globalização e da industrialização, tudo possui nuances pragmáticas. A
informação, o lazer, as relações, a educação e o conhecimento estão sendo
produzidos mecanicamente e com fins comerciais. O ser, porém, segundo essa
lógica vigente, tem pouco espaço nas reflexões, haja vista que essa reflexão
metafísica reclama elucubrações para as quais poucos estão dispostos a dedicar
tempo.
Tantos dramas sociais estão originados
em crises existenciais individuais que se reverberam numa espécie de contágio
da consciência coletiva. William Shakespeare (1564-1616), dramaturgo inglês, na célebre peça “Hamlet” vaticinava a problemática
numa questão sobre a possibilidade de ser ou não ser. Essa pergunta sobre o
próprio ser toma, então, macro-proporções em todas as dimensões da vida porque
põe os fundamentos da existência numa averiguação ontológica. Entretanto, muito
embora seja uma provocação aguilhoada, quem se expõe aos seus riscos escreve os
preâmbulos de uma trajetória que se encaminha para a indemnidade, ou seja, para
um ressarcimento pelo esforço empenhado, para a plenitude.
O filósofo francófono Jean Paul Sartre
(1905-1980) assevera o contrário ao dizer
que a existência precede a essência. Isto é, segundo Sartre é o existir que
define a essência. Isso implica dizer que não existe uma natureza que configura
a essência do homem. Entretanto, cada um, existindo, vai construindo, definindo
a sua essência, livre e responsavelmente. O sujeito deveria ocupar-se em
construir seu eu, enquanto gasta tempo perguntando-se sobre sua essência. Longe
disso se experimenta náuseas. Parece absurdo? Sim, é! É exatamente assim que
Sartre denominava a percepção da inexistência do ser no prospecto objetivo.
A honestidade, a responsabilidade, a
verdade, valores e rótulos projetados nos outros, por exemplo, desde amantes e
amigos até servidores públicos e políticos, às vezes, decepcionam e, à vista
disso, o ser e a existência aparecem então como contrários: diz que “é”, mas
instaura-se um vácuo na existência porque a manifestação do não-ser é
impossível, restando então o nada. Isso é uma crise existencial. O ser é assenhoreado
de um ceticismo albergando-se num desconforto espacial ao passo que se
compreende como “eu” e, por conseguinte, no “outro”, até mesmo naqueles que
nunca se ocuparam com as mais simples noções de ontologia.
Em tempos de divergências entre
existencialismo e ontologia, vale lembrar que “o existencialismo é um
humanismo”. É Sartre quem diz e assim intitula uma de suas obras. Acreditar nisto coloca o sujeito frente ao
ser, ao não-ser e ao existir. O que fazer com essas possibilidades? Construir!
Se no pragmático mundo do virtual, da técnica, da corrupção, da falta de amor,
da violência e da morte falta o ser, o homem ao fazer existir (-se), como
sujeito real, artesanal, honesto, amante, pacífico e vital, enfim, parece
encontrar o produto positivo de uma equação filosófica que se demonstra sutilmente
na “lousa” pública que é a vida. Existir sem medo do ser cura a náusea,
preenche o nada, provocando efeito valorativo em cada ação da existência do
“eu” que migra da crise existencial para uma satisfação ontológica.
Seminarista João
Kennedy
Arquidiocese de Aracaju-SE
4º período de Filosofia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário