É Páscoa! É tempo de voltar ao essencial de nossa fé. É tempo de voltar a verdade fundamental da nossa existência cristã. Mas, acima de tudo, é tempo de deixar-nos encontrar por uma Pessoa: Jesus Cristo, Filho de Deus, que dando sua vida na cruz e ressuscitando dos mortos nos revelou a profundidade do amor de Deus para com os homens. Portanto, é tempo de experimentar a presença de Cristo morto e ressuscitado em nossas vidas e de deixar-se transformar por Ele, que mesmo sendo Deus, assumiu nossa existência com todas as suas dimensões, até mesmo a morte, a fim de se unir a nós, trazendo-nos Deus ao mesmo tempo que nos eleva à Ele, mostrando que o Pai está conosco em todos os momentos de nossa existência: que Ele tem a última palavra sobre nós.
Em todos os relatos do
primeiro encontro com o Ressuscitado, percebemos que os discípulos passam do
sentimento de medo, para o sentimento de alegria (cf. Jo 20, 19-20; Mt 28, 1-10),
e é de se perceber ainda que é uma alegria que transforma para sempre as suas
vidas. Isso porque a experiência com o Senhor que vive faz gerar nos discípulos
uma confiança filial em Deus, que ao experimentarem a morte e a ressurreição de
Jesus, veem que o Pai não abandonou o seu Filho, que também é verdadeiro homem,
pois com a encarnação assumiu todos os aspectos de nossa vida, exceto o pecado (nossas
alegrias, nossas esperanças, nossa ânsia de felicidade, nossas dores, nossos
medos, nossas angustias, nossa distância
de Deus – o sentimento de abandono na cruz – e com isso, assumiu a nossa morte,
realidade última e mais dramática da nossa existência). Com isso os discípulos,
tendo como exemplo a vida do próprio Cristo, acreditam que o Pai também não
abandonará os que por meio do seu Filho se unem a Ele.
Por isso, onde quer que
estejamos, não estamos sozinhos, o Pai que acompanhou seu Filho durante toda
sua existência, que não o abandonou nem mesmo no sepulcro (cf. At 2, 22-24),
também não nos abandonará, nós que nos tornamos seus filhos adotivos, pela ação
do Espírito no sacramento do batismo e pela fé, confiança filial que Jesus nos
ensinou. Eis a experiência que mudou a vida dos primeiros discípulos e de todos
os que se colocaram no seguimento de Jesus ao longo da história: Jesus nos uniu
de tal modo a ele que sua vida é a nossa vida (cf. Gl 2,20a) e, portanto, o que
o Pai realizou nele, em sua Páscoa, também realizará em nós. Pois, “pelo batismo nós fomos sepultados com ele na
morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do
Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 4).
É essa experiência, à semelhança do povo da
Antiga a Aliança que constantemente rememorava a experiência do êxodo, que revigora
a fé e alegria dos discípulos do Senhor no cotidiano de suas vidas: “minha vida na carne, vivo-a pela fé no Filho
de Deus, que me amou e se entregou a sim mesmo por mim” (Gl 2,20b). Desse modo,
Páscoa é tempo de fazer esse encontro com o Senhor que está no meio de nós pelo
dom do Espírito Santo, porque somente a partir dele, em um mundo marcado por
tantas realidades desumanas, poderemos afirmar com o apóstolo Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo? [..] Pois
estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os
principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a
profundeza, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus
manifestado em Cristo Jesus, Nosso Senhor” (Rm 8, 35a.38-39).
Podemos então dizer: se
nos falta alegria, coragem, se nos falta a fé como força que dá sentido as
nossas vidas, é porque necessitamos de uma verdadeira experiência com o Senhor
Ressuscitado, que gera em nós a confiança, a fé filial que nos mostra que
nenhuma realidade, nem mesmo o pecado e a morte, tem a última palavra sobre
nossas vidas. Jesus, o Filho de Deus, tomou todos os aspectos da nossa
existência, principalmente seus momentos mais difíceis de serem compreendidos e
aceitos, para mostrar ou melhor para fazer Deus presente nela. Assim, na sua
Páscoa, Cristo realiza plenamente a promessa que perpassa e que anima toda a
vida e história do povo de Deus: “Eu
estou contigo e te guardarei em todo lugar onde fores” (Gn 28,15a; cf. Js 1,9,
Is 41,10a;). “Eis que eu estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt28,20b; cf. Hb 13, 5b)).
Por isso, só Deus tem a última palavra sobre nós, sobre nossa vida e história.
Portanto, saiamos de nós
mesmos, é Páscoa, é êxodo, é tempo de deixar-se conduzir pelo Senhor, de passar
de uma vida marcada por realidades de morte para realidades de vida, de acolher
a alegria e de renovar a fé transformadora que nascem do encontro com o Cristo morto
e ressuscitado, Filho de Deus e Senhor de toda história humana. Que o Vivente
nos encontre e nos faça viver em um permanente estado de páscoa, de confiança
no Pai, até chegarmos a Páscoa definitiva onde nossa vida será plena, onde
nossa alegria será completa: onde Deus
será tudo em nós (cf. 1Cor 15,28).
Manoel Messias Dias Santos
4º ano de teologia
Diocese de Estância/SE
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