quarta-feira, 14 de setembro de 2016

REFLEXÃO SOBRE A SAGRADA ESCRITURA


“A Palavra do Senhor permanece para sempre” (Is 40,8)

Estamos no mês de setembro, mês temático dedicado à Sagrada Escritura. A Igreja, como Mãe e Mestra, propõe este tema tão especial a fim de que cada fiel possa redescobrir a importância fundamental da Palavra de Deus no centro da fé cristã.
Nesse tempo favorável no qual somos chamados a intensificar nossa experiência com Deus por meio de sua Palavra, torna-se imprescindível refletirmos sobre o que é a Palavra de Deus. Ou seria melhor perguntarmos: Quem é a Palavra de Deus?
As palavras, no cotidiano de nossas vidas, servem para comunicar algo; são instrumentos de comunicação da nossa língua e linguagem humana. As palavras são expressões externas de nossos pensamentos que comportam significado, ação, estado etc. As palavras são meios ou recursos de nossa fala ou escrita que permitem que o processo de comunicação aconteça. Assim também acontece com a Palavra de Deus.
A Palavra de Deus é também expressão de comunicação, porém, há significativas diferenças entre as palavras da linguagem humana e a Palavra de Deus. Antes e acima de tudo, esta Palavra, não se trata de uma coisa ou um instrumento, ela é uma Pessoa; uma Pessoa Divina que veio ao mundo para comunicar, ou melhor, autocomunicar a mensagem salvífica. Portanto, a Palavra de Deus é o Verbo de Deus, é o Filho eterno do Pai eterno, Deus de Deus e Luz da Luz que veio para iluminar a todos os homens plenamente. A Palavra de Deus, na Revelação divina, é a Pessoa do Filho que autocomunica Deus e seu mistério de salvação. De maneira bem clara, o Evangelho segundo são João nos introduz neste mistério: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,1-2.14).
Na sua sabedoria infinita, essa Palavra de Deus, que com o Pai sempre esteve e por quem tudo foi criado, sendo o Esplendor da Verdade, conduziu o homem à Revelação divina desde os tempos mais remotos, desde as origens. Pois, Deus, em seu desígnio inefável de bondade, livremente, por amor nos criou, e nos fez capazes de reconhecê-Lo como o único Deus, autor de tudo e infinito em benevolência, revelando-se para nós através da sua Criação. Como um verdadeiro Pedagogo, através de sua Palavra e na potência do Espírito Santo, conduziu-nos passo a passo para a sua Revelação definitiva, que por nossas próprias forças jamais poderíamos alcançar. Por meio da Aliança do Antigo Testamento, utilizou-se das humildes palavras humanas, por meio das tradições orais e depois, escritas, para se manifestar e preparar o homem para Nova e Eterna Aliança em seu Filho.
 Assim, Deus Se comunicou a Si mesmo por meio do dom da sua Palavra a nós. Esta Palavra, que permanece eternamente, entrou no tempo e fez-Se carne (Jo 1, 14). Em outras palavras, Deus se revelou a si mesmo plenamente na pessoa de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, pela ação do Espírito Santo.
Esta Boa Nova é o anúncio que atravessa os séculos, tendo chegado até aos nossos dias. Este Verbo de Deus, Palavra eterna do Pai, que sempre guiou o ser humano é a plenitude da Revelação, Autor e Consumador da verdade de nossa fé. Por isso, devemos entender que a verdade de salvação chegou para nós através da transmissão ininterrupta da fé que a Igreja realiza através dos séculos. Neste sentido, a Bíblia é um testemunho legítimo de uma Tradição que transmitiu a verdade da Palavra de Deus encarnada que nos trouxe a salvação pelo mistério de sua Paixão, Morte e Ressurreição.
Por conseguinte, nas palavras da Sagrada Escritura há uma presença da Palavra Eterna de Deus. Para nós cristãos, a Palavra de Deus está contida nas Sagradas Escrituras, entretanto, a Palavra de Deus vai além dos escritos hagiográficos, supera e não se prende à letra em si. A Bíblia, conjunto de escritos divinamente inspirados, é um testemunho autêntico, privilegiado e normativo de fé que realmente contém a Palavra de Deus nas palavras de nossa linguagem humana, mas Ela não está somente contida na Bíblia, pois “creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam se fossem escritas uma por uma as muitas coisas que Jesus fez.” (Jo 21,25).
Não devemos ignorar, dessa maneira, que a Escritura Santa é fruto da Sagrada Tradição da Igreja que transmite a Palavra de Deus. Pois antes de possuirmos a tradição escrita, tivemos a Tradição oral que foi transmitida de geração em geração até à consolidação do registro escrito. A Tradição viva da Igreja permanece como lugar da Palavra de Deus. Conforme a Dei Verbo (n.9), “a Sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a Sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência”.
Saber que a Palavra de Deus é o próprio Jesus Cristo livra-nos de pensar que a Escritura é absoluta em si mesma. Por isso, afirmamos que o Cristianismo não é uma religião do Livro, mas sim da Palavra que permanece para sempre. Ser Cristão é reconhecer o Cristo que se dá nas Escrituras, mas também está presente nos irmãos, nos Sacramentos e, sobretudo, na Eucaristia.

Que nesse mês dedicado à Sagrada Escritura, todos os cristãos possam se encontrar com a Palavra eterna do Pai e guiar os seus passos no caminho de santidade novo e profundo aberto pelo Verbo encarnado que se deu a conhecer a nós por meio da Igreja na força do Espírito Santo!

Seminarista Ronny  estudante do 4º ano de Teologia
 Diocese de Palmeira dos Índios-AL

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