“A Palavra do Senhor
permanece para sempre” (Is 40,8)
Estamos no mês de setembro, mês temático
dedicado à Sagrada Escritura. A Igreja, como Mãe e Mestra, propõe este tema tão
especial a fim de que cada fiel possa redescobrir a importância fundamental da
Palavra de Deus no centro da fé cristã.
Nesse tempo favorável no qual
somos chamados a intensificar nossa experiência com Deus por meio de sua
Palavra, torna-se imprescindível refletirmos sobre o que é a Palavra de Deus.
Ou seria melhor perguntarmos: Quem é a Palavra de Deus?
As palavras, no cotidiano de
nossas vidas, servem para comunicar algo; são instrumentos de comunicação da
nossa língua e linguagem humana. As palavras são expressões externas de nossos
pensamentos que comportam significado, ação, estado etc. As palavras são meios
ou recursos de nossa fala ou escrita que permitem que o processo de comunicação
aconteça. Assim também acontece com a Palavra de Deus.
A Palavra de Deus é também
expressão de comunicação, porém, há significativas diferenças entre as palavras
da linguagem humana e a Palavra de Deus. Antes e acima de tudo, esta Palavra,
não se trata de uma coisa ou um instrumento, ela é uma Pessoa; uma Pessoa
Divina que veio ao mundo para comunicar, ou melhor, autocomunicar a mensagem
salvífica. Portanto, a Palavra de Deus é o Verbo de Deus, é o Filho eterno do
Pai eterno, Deus de Deus e Luz da Luz que veio para iluminar a todos os homens
plenamente. A Palavra de Deus, na Revelação divina, é a Pessoa do Filho que autocomunica
Deus e seu mistério de salvação. De maneira bem clara, o Evangelho segundo são
João nos introduz neste mistério: “No
princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No
princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio d’Ele e sem Ele nada
foi feito... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,1-2.14).
Na sua sabedoria infinita, essa
Palavra de Deus, que com o Pai sempre esteve e por quem tudo foi criado, sendo
o Esplendor da Verdade, conduziu o homem à Revelação divina desde os tempos
mais remotos, desde as origens. Pois, Deus, em seu desígnio inefável de
bondade, livremente, por amor nos criou, e nos fez capazes de reconhecê-Lo como
o único Deus, autor de tudo e infinito em benevolência, revelando-se para nós
através da sua Criação. Como um verdadeiro Pedagogo, através de sua Palavra e
na potência do Espírito Santo, conduziu-nos passo a passo para a sua Revelação
definitiva, que por nossas próprias forças jamais poderíamos alcançar. Por meio
da Aliança do Antigo Testamento, utilizou-se das humildes palavras humanas, por
meio das tradições orais e depois, escritas, para se manifestar e preparar o
homem para Nova e Eterna Aliança em seu Filho.
Assim, Deus Se comunicou a Si mesmo por meio
do dom da sua Palavra a nós. Esta Palavra, que permanece eternamente, entrou no
tempo e fez-Se carne (Jo 1, 14). Em outras palavras, Deus se revelou a si mesmo
plenamente na pessoa de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, pela ação do Espírito
Santo.
Esta Boa Nova é o anúncio que
atravessa os séculos, tendo chegado até aos nossos dias. Este Verbo de Deus,
Palavra eterna do Pai, que sempre guiou o ser humano é a plenitude da
Revelação, Autor e Consumador da verdade de nossa fé. Por isso, devemos
entender que a verdade de salvação chegou para nós através da transmissão
ininterrupta da fé que a Igreja realiza através dos séculos. Neste sentido, a
Bíblia é um testemunho legítimo de uma Tradição que transmitiu a verdade da
Palavra de Deus encarnada que nos trouxe a salvação pelo mistério de sua
Paixão, Morte e Ressurreição.
Por conseguinte, nas palavras da
Sagrada Escritura há uma presença da Palavra Eterna de Deus. Para nós cristãos,
a Palavra de Deus está contida nas Sagradas Escrituras, entretanto, a Palavra
de Deus vai além dos escritos hagiográficos, supera e não se prende à letra em
si. A Bíblia, conjunto de escritos divinamente inspirados, é um testemunho
autêntico, privilegiado e normativo de fé que realmente contém a Palavra de
Deus nas palavras de nossa linguagem humana, mas Ela não está somente contida
na Bíblia, pois “creio que o mundo não poderia conter os livros que se
escreveriam se fossem escritas uma por uma as muitas coisas que Jesus fez.” (Jo
21,25).
Não devemos ignorar, dessa
maneira, que a Escritura Santa é fruto da Sagrada Tradição da Igreja que
transmite a Palavra de Deus. Pois antes de possuirmos a tradição escrita, tivemos
a Tradição oral que foi transmitida de geração em geração até à consolidação do
registro escrito. A Tradição viva da Igreja permanece como lugar da Palavra de
Deus. Conforme a Dei Verbo (n.9), “a
Sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e
compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina,
fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra
de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a Sagrada
Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a
palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos,
para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a
difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira
só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas.
Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e
reverência”.
Saber que a Palavra de Deus é o
próprio Jesus Cristo livra-nos de pensar que a Escritura é absoluta em si
mesma. Por isso, afirmamos que o Cristianismo não é uma religião do Livro, mas
sim da Palavra que permanece para sempre. Ser Cristão é reconhecer o Cristo que
se dá nas Escrituras, mas também está presente nos irmãos, nos Sacramentos e,
sobretudo, na Eucaristia.
Que nesse mês dedicado à Sagrada
Escritura, todos os cristãos possam se encontrar com a Palavra eterna do Pai e
guiar os seus passos no caminho de santidade novo e profundo aberto pelo Verbo
encarnado que se deu a conhecer a nós por meio da Igreja na força do Espírito
Santo!
Seminarista Ronny estudante do 4º ano de Teologia Diocese de Palmeira dos Índios-AL |
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