“O
mocambo é, pois um produto da guerra, e é também a expressão de um portesto da
raça contra a escravidão”.
Felte
Bezerra
Aos dezesseis dias do mês de setembro do ano
corrente, os alunos do curso de filosofia do quarto período do mesmo, do
Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, fizeram uma aula de campo ao centro
de cultura afro de Sergipe, sobre a orientação do professor e mestre Fábio
Silva, onde o mesmo leciona a matéria de sociologia da religião. Esta aula fora
realizada com o intuito de que os acadêmicos pudessem ter um estudo mais
profundo sobre as influências deixadas pelas diversas religiões existentes em
Sergipe.
Severo D’Acelino, sergipano, filho de Acelino Severo
dos Santos e Odilia Eliza da Conceição, foi o fundador do movimento negro em
Sergipe, Bahia e Alagoas. Ativista dos direitos humanos, poeta, dramaturgo,
diretor teatral, coreógrafo, pesquisador das culturas afro indígena de Sergipe,
ator. Em 1968 fundou o grupo regional de folclore e artes cênicas amadorista
Castro Alves, em 1973 os cactueiro cênico, grupo e teatro GRFACACA, introduziu
o teatro de rua em Sergipe. Dirigiu diversas peças e espetáculos de dança,
entre eles: Maria Virgo Mater Dei, O Mistério da Rosa Amarela; A Ultima
lingada, De Como Revistar Um Marido Oscar; Terra Poeira in Cantus; Navio
Negreiro; Água de Oxalá; A Dança dos Inkices D’Angola; Lybo Iná Iye; João Bebe
Água. No cinema interpretou Chico Rey, Espelho D’Água e na televisão: Thereza
Baptista Cansada de Guerra. Autor de diversas peças, textos e coreografias que
destacam a suíte nagô. Casado, militar reformado da marinha de guerra do
Brasil. E coordenador geral da casa de cultura afro de Sergipe. Homem de grande
estatura, voz forte, de muita presença, mas de uma sabedoria intelectual e
principalmente de vida admirável.
As
condições do negro no nosso estado ainda são precárias, e ainda existe muito
preconceito, afirmou ele no inicio de sua fala. Citou muito sobre o candomblé,
onde todo processo de transmissão do conhecimento é feita de forma oral, dos
mais velhos para os mais novos, pois a mesma não guarda de forma escrita seus
ritos, costumes, cânticos e etc. e graças às características únicas da
oralidade, muito do conhecimento sobre o candomblé se perdeu ao longo dos anos
ou alterado de forma “ingênua” por às vezes não ter certeza de como deve ser
realizado ou feito.
Outro
detalhe destacado por Severo foi à questão da cultura que é gerada dentro
desses terreiros, realizando assim uma eficaz aliança entre aquilo que é divino
com o humano. Destacou também as músicas, que também são fundamentais dentro de
seus rituais e ele deu exemplos de músicas para específicos ritos.
Falou-se
também sobre os orixás, que são as divindades que detém um poder especifico
sobre algum elemento da terra. Citou a questão das macumbas de encruzilhadas,
na linha do trem que por sinal é a mais forte, pois deseja a “passagem” de uma
pessoa, sendo que essa palavra passagem é entendida em um sentido pejorativo ao
máximo.
Um
dos seminaristas perguntou sobre a relação dessa cultura afro com a Igreja
católica, já que eles haviam sofrido bastante no inicio de sua história por
causa da Igreja católica, e ele de forma muito irônica, porém de forma
subtendida, que eles (esses que compartilham dessa religião) não passam de
vitimas do cristianismo, mas que hoje em dia conseguem ter alguma brecha e
aceitação de boa parte daqueles que estão a frente do catolicismo.
Sua
fala durou pouco mais de duas horas e que não foi tempo suficiente para que ele
expusesse todo seu saber, se assim fosse precisaria de muito mais tempo. Homem
de uma grande oratória conseguiu prender a atenção de todos a ele, mesmo quase
sem interação do grupo que fazia a pesquisa de campo.
Por
fim, mostrou replicas dos espíritos que “baixam” nas pessoas dentro dos
rituais. Deu a cada seminarista um pequeno livro de autoria própria com o
titulo de Resistência e Religiosidade do Negro Sergipano, nesse acanhado livro
trata da história dos negros em Sergipe, sobre a religiosidade, a arte sacra
negra, termos próprios do candomblé e sobre as musicas e as danças.
Sem. Renato Alves dos Santos
Prof. de Sociologia da religião Fábio conversando com o coordenador geral da casa de cultura afro de Sergipe Severo. |
Turma do segundo ano de filosofia do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição. |
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