Renovação, o que é?
Renovação é, atualmente, um dos temas mais discutidos na Igreja. Devido à sua urgência e gravidade, tem despertado um crescente interesse não somente dentro da Igreja, mas também fora dela. De repente, todos se tornam especialistas em assuntos eclesiásticos e dizem: “a Igreja precisa mudar”, “a Igreja dos meus sonhos é assim...”, “vamos construir uma Igreja melhor e mais humana”, “a Igreja é muito rígida, limita a liberdade humana, priva-nos das coisas boas da vida” etc. Apesar disso, renovação não é um assunto novo. De fato, o próprio Cristianismo surgiu como uma renovação do Judaísmo, visando converter o homem velho em homem novo. É conhecida a célebre expressão latina: “Ecclesia semper reformanda” (“A Igreja sempre necessita de reforma”). Na época do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), por exemplo, falou-se de “aggiornamento” (palavra italiana que significa atualização, revisão, modernização) da Igreja. Como se vê, a dinâmica da renovação sempre esteve presente na vida da Igreja.
Que a Igreja necessita de renovação, dificilmente alguém discordará disso. A questão agora é saber que tipo de renovação e qual o critério para que ela aconteça. Diante disso, minha intenção é oferecer, em três pequenos textos, o ponto de vista de Joseph Ratzinger, o humilde teólogo alemão que se tornou papa com o nome de Bento XVI, partindo de quatro de suas obras: O novo povo de Deus (1969), A fé em crise? (1985), Compreender a Igreja hoje (1991) e Luz do mundo (2010).
Que tipo de renovação se pretende na Igreja de hoje? Primeiramente, não se trata de substituir aquilo que é cristão por algo diferente, melhor e menos exigente; não se trata de uma simples modernização, a fim de tornar a Igreja mais atraente ao homem moderno; não se trata de negar o passado, como se ele fosse mau e nos causasse vergonha; não se trata de uma simples mudança nas estruturas eclesiásticas. Para Ratzinger, renovação significa revalorizar aquilo que é realmente cristão e redescobrir o sentido de ser cristão hoje, apesar de tudo. Renovação pressupõe a fé, realiza-se no âmbito da fé, faz a fé crescer. Qual o critério, então, para que tal renovação aconteça? Ratzinger não tem dúvidas: o critério é saber o que é ser cristão verdadeiramente! É a partir dessa identidade que se deve realizar a renovação, e não a partir do que é atual e está na moda. Não é simplesmente dizer que a Igreja precisa se adaptar à modernidade e acompanhar o mundo. A Igreja segue Jesus Cristo, e não o mundo; ela vive da graça de Deus, e não de modismos. “Não vos conformeis ao mundo presente, mas sede transformados pela renovação da vossa inteligência, para discernirdes a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito” (Rm 12,2). Não devemos, portanto, adaptar a Igreja aos esquemas deste mundo.
Para Ratzinger, por fim, renovação significa simplicidade: tornar-se simples, procurar a simplicidade de Deus. Renovação é simplificação: é fazer desaparecer tudo aquilo que é nosso para aparecer o que é de Deus; é renunciar à Igreja feita a nossa medida para acolhermos a Igreja dEle; é abandonar a ilusão de que a renovação é fruto dos nossos esforços, dos nossos projetos. Renovação é redescobrir a simplicidade e a beleza de ser cristão, e, assim, poder dizer como Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). É dessa renovação que a Igreja necessita!
Por Bruno Igor O. Cavalcante
Seminarista da Diocese de Palmeira dos Índios - Alagoas
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