segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Ciência e religião não estão em contraste.



Publicamos a seguir as palavras de Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, na Sétima Congregação Geral do Sínodo dos Bispos (sexta-feira, 12 de outubro).

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Na cultura contemporânea há muitas encruzilhadas que a evangelização não pode evitar.

Em primeiro lugar a da linguagem. Sem abandonar a complexidade do discurso religioso, é necessário saber adotar também as novas regras da comunicação eletrônica e digital com a sua nitidez e simplicidade e com o seu recurso das narrações televisivas com imagens.

Depois, há o horizonte da secularização. Ela não consegue, porém, eliminar a questão religiosa e a força da ética natural. Neste contexto está tendo muito sucesso o “Pátio dos Gentios” pedido por Bento XVI com a sua evocação do Deus desconhecido mas talvez procurado por muitos não-crentes.

Há uma terceira área de evangelização que foi decisiva por séculos, e é aquela da arte que exige ser novamente tecida hoje sob a nova gramática e estilo das expressões artísticas contemporâneas, sem perder a conexão com a sacralidade do culto cristão.

Há também a encruzilhada das culturas juvenis, com as suas experiências socializantes, muitas vezes arriscadas, mas também dotadas de uma fecundidade própria: pensemos nos eventos e na prática esportiva ou no constante recurso à música.

Há finalmente, o mundo da ciência e da técnica, que já passa por toda etnia e cultura, ao qual gostaria de dedicar uma consideração específica. Nele a fé nao deve ter medo de encontrar-se, tendo o mesmo olhar de Cristo que contemplava vegetais e animais e usava até mesmo as previsões metereológicas (Mt 16,2-3; Lc 11, 54-55) para anunciar o Reino, seguindo os passos do Antigo Testamento que no criado intuia uma voz transcendente, como sugere o Salmo 19. Hoje o nosso olhar pode fixar-se com maravilha também na trama da evolução global, do fundo cósmico à hélice do DNA, do bóson de Higgs ao multiverso.

À incompatibilidade entre ciência e fé e o abuso de poder de uma sobre a outra, como aconteceu no passado e como ainda acontece, é necessário substituir o reconhecimento mútuo da dignidade dos respectivos estatutos epistemológicos: a ciência se dedica à “cena”, ou seja, ao fenômeno, enquanto que a teologia e a filosofia se dirigem ao “fundamento”.

Distinção, portanto, mas não separação e exclusão mútua, sendo único e comum o objeto, ou seja o ser e o existir. É, portanto, compreensível que muitas vezes vezes existam rejeições e tensões, sobretudo em campo bioético.

É indispensável, portanto, o diálogo sem arrogância e sem a confusão dos níveis e das abordagens específicas. Como já indicava João Paulo II em 1988, “o que é extremamente importante é que cada disciplina continue a enriquecer, nutrir e provocar a outra para ser plenamente o que deve ser e contribuir à nossa visão de quem somos e para onde vamos”.

Confirmava-o também aquele grande cientista, Max Planck, o pai da teoria quântica: “Ciência e religião não estão em conflito, mas precisam uma da outra para completar-se na mente de um homem que pensa seriamente.”

Zenit

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