quarta-feira, 16 de maio de 2012

O(s) Anticristo(s)


O(s) Anticristo(s) (Parte I)


Caro Leitor meu, gostaria de refletir com você sobre o profundo texto da Primeira Carta de São João 2,18-29. Farei aos poucos, durante o dia de hoje, à medida do meu tempo:
18Filhinhos, esta é a última hora. Ouvistes dizer que o Anticristo virá. Com efeito, muitos anticristos já apareceram. Por isso, sabemos que chegou a última hora.

O Novo Testamento refere-se várias vezes ao “final dos tempos”, aos “últimos tempos” e à “última hora”. É preciso cuidado no modo de compreender tais expressões. “Últimos tempos” são aqueles em que estamos: o tempo definitivo, no qual o Maligno já foi vencido pela morte e ressurreição do Senhor, o tempo novo, da nova e eterna aliança, o tempo no qual já não se espera uma nova revelação porque na Sua Palavra, no Seu Verbo eterno, o Pai já nos disse tudo. Tudo agora é contínua explicação, explicitação dessa Palavra eterna que é Jesus. A vitória de Cristo é definitiva e irremediável, ainda que não se manifeste de modo pleno na nossa história. Cristo já é vencedor e isto será claramente manifestado a seu tempo! Isso, contudo, não nega que haverá um Dia final, o Dia do Cristo, o Dia em que a história entrará na Glória e o tempo na Eternidade; Dia em que toda esta criação será transfigurada.

Aqui, neste texto de João, a “última hora” refere-se a esse tempo entre a partida do Senhor e Sua Vinda definitiva: tempo último porque tempo de decisão final, tempo da definitiva aliança, tempo em que já nos encontramos, tempos que estamos vivendo agora. Observe que no contexto dessa “última hora”, João fala no Anticristo e nos anticristos. Que significa isso? Primeiro: anticristo é tudo aquilo e todo aquele – sistema ou pessoa – que se coloca contra o Cristo explícita ou veladamente. Exemplos: Hitler, Stálin, Mao Tse Tung foram verdadeiros anticristos; Edir Macedo e outros como ele, que usando o nome do Senhor deformam gravemente e destroem por dentro, com falsidade, mentira e engano demoníaco o sentido do cristianismo, levando ao erro e à fraude tantos incautos. Anticristo é o sistema de ideias que veicula um ateísmo prático, um materialismo que desumaniza, um consumismo que pensa satisfazer a existência com bens materiais. Anticristo, esta ilusão de pensar que o homem pode fazer sua própria moralzinha, do seu modo e à sua medida. Anticristo, muito do que fazem os meios de comunicação, espalhando a ideia de um mundo sem Deus e propagando uma cultura na qual Deus já não é levado em conta.. Veja, então que a ideia de anticristo é bastante ampla. Tudo isto são os anticristos – no plural. Eles já vieram, estão entre nós e ainda virão muitos!

Mas, há também o Anticristo – no singular e com maiúscula. Deste Anticristo misterioso o Catecismo fala com clareza e de modo realmente impressionante e muito concreto: 675. Antes da Vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes. A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra, porá a descoberto o «mistério da iniquidade», sob a forma dumaimpostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do Anticristo, isto é, dum pseudomessianismo em que o homem se glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado.676. Esta impostura anticrística já se esboça no mundo, sempre que se pretende realizar na história a esperança messiânica, que não pode consumar-se senão para além dela, através do juízo escatológico. A Igreja rejeitou esta falsificação do Reino futuro, mesmo na sua forma mitigada, sob o nome de milenarismo, e principalmente sob a forma política dum messianismo secularizado, «intrinsecamente perverso». 677. A Igreja não entrará na glória do Reino senão através dessa última Páscoa, em que seguirá o Senhor na sua morte e ressurreiçãoO Reino não se consumará, pois, por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o último desencadear do mal, que fará descer do céu a sua Esposa. O triunfo de Deus sobre a revolta do mal tomará a forma de Juízo final, após o último abalo cósmico deste mundo passageiro”.

Assim, os anticristos nos colocam de sobreaviso para o Anticristo: estão a serviço dele e são como que antecipações dele. Observe que a fé da Igreja aponta para um dado impressionante: o Reino não virá pelo triunfo histórico da Igreja! Ela será duramente provada, muitos desfalecerão na fé. Quando tudo parecer perdido, Deus manifestará Seu triunfo salvador! É Ele, não nós quem salva! Isto nos amedronta, porque temos a tendência de colocar a confiança em nós e não no Senhor – por mais que digamos que cremos Nele e Nele esperamos!

Mas, o texto de João chama atenção para os anticristos de agora... É sobre estes que devo refletir com você... 


Anticristos entre nós!

19Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos, pois se fossem realmente dos nossos, teriam permanecido conosco. Mas era necessário ficar claro que nem todos são dos nossos.
Interessante esta outra afirmação da Escritura sobre os anticristos de todos os tempos: muitos deles eram nominalmente cristãos, mas “não eram dos nossos”. O Senhor conhece os Seus. Aqueles que não perseveraram até o fim, mas deixaram o rebanho de Cristo e, pior ainda, passaram a militar contra Cristo, é porque na verdade e no saber providente e previdente de Deus, nunca foram realmente cristãos: “Se fossem realmente dos nossos, teriam permanecido conosco!” Palavras misteriosas, que apontam para a impenetrável fronteira entre a presciência de Deus e Sua graça absoluta, por um lado, e a verdadeira liberdade humana, por outo. Tudo é graça e, no entanto, o homem é realmente livre e em nada a graça sufoca a liberdade, antes a suscita: quanto mais próximo de Deus alguém está, mais livre é de verdade!
Ninguém se torna anticristo por sina, por plano de Deus; é ato da liberdade humana. Por outro lado, o Senhor conhece os Seus desde o início e os atrai e sustenta com a Sua graça bendita. Silêncio, diante do mistério!
Finalmente, a advertência: olhe os cristãos, olhe os católicos: nem todos são dos nossos! É necessário que isto fique claro: há os que vão desistir, há os que vão negar a fé, há os que vão escandlizar profundamente os irmãos e emporcalhar o nome do Senhor, há os que cuspirão no rosto de Cristo. Que ninguém esmoreça nem se escandalize!


Contra os anticristos, a Unção do Santo

20Vós já recebestes a unção do Santo, e todos tendes conhecimento. 21Se eu vos escrevi, não é porque ignorais a verdade, mas porque a conheceis, e porque nenhuma mentira provém da verdade.
João pensa aqui no Espírito Santo – é Ele a Unção do Deus santo, simbolizado seja na água do Batismo como no óleo da Crisma. Na água batismal o Espírito é dado como vida nova em Cristo; no óleo crismal é dado como força para viver no Senhor e testemunhá-Lo diante do mundo. Ora, este Espírito Santo, vida e luz do próprio Cristo em nós, dá-nos testemunho de que Jesus está vivo e é o Senhor, dá-nos a graça de sustentar a nossa fé e discernir entre o certo e o errado, entre o que é a genuína fé católica recebida dos apóstolos e aquilo que é desvio, mesmo que tenha a aparência de atualidade e sabedoria, cheia de raciocínios vistosos e mundanos.
A este dom sobrenatural da fé do Povo de Deus, o Concílio Vaticano II chamou “sensus fidei” (sentido da fé) e “sensus fidelium” (sentido – de fé – dos fieis). Trata-se de um “instinto” que os filhos da Igreja possuem, de modo que eles, na sua totalidade católica, não podem errar na sua adesão a Cristo e no instinto que discerne o que é de acordo com a fé católica de sempre e aquilo que lhe é estranho. É importante notar que os fieis discernem esta realidade sob a direção dos legítimos pastores da Igreja (o Sucessor de Pedro e os Bispos em comunhão com ele), colocados pelo mesmo Espírito Santo à frente do rebanho (cf. At 20,28).
Pense bem, caro Leitor meu: Esta certeza que você traz no coração de que Jesus está vivo e é o Messias de Deus, a experiência gozosa e serena que Dele você faz, o gosto por tudo quanto é genuinamente católico e o abuso a tudo quanto afasta de fé católica – ainda que tenha a aparência de moda atrativa -, tudo isto é fruto da ação do Espírito, santa Unção do Ungido (= Cristo) em nós! Quanto mais dócil ao Espírito alguém for, mais fiel à fé católica será, mais amará a Igreja, mais afastar-se-á do erro, dos modismos, das novidades fúteis que desvirtuam e tiram o foco do verdadeiro essencial! Sejamos simples, mansos, dóceis ao Santo Espírito que o Ressuscitado nos doou como unção nos santos sacramentos!


Texto retirado do Blogger de Sua Excelência Reverendíssima Dom Henrique Soares da Costa (Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aracaju).

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