terça-feira, 26 de agosto de 2008

PAPA ALBINO LUCIANI: UM PONTIFICADO BREVE, INTENSO E MARCANTE

O dia 26 de agosto de 1978 era um sábado. Mas não um sábado como tantos outros, e sim um dia que entraria para a história: da Igreja e do mundo. Há exatamente 30 anos, o Sacro Colégio dos Cardeais elegia como papa _ num conclave que durou apenas 26 horas _ como sucessor de Paulo VI, o patriarca de Veneza, Cardeal Albino Luciani, que adotaria o nome de João Paulo I e teria um dos pontificados mais breves da história da Igreja: apenas 33 dias. De fato, viria a falecer no dia 28 de setembro sucessivo.

O conclave teve início às 16h30 de sexta-feira, 25 de agosto, e se concluiu 26 horas depois, com a escolha do Cardeal Luciani. Foi, depois de 1939, o conclave mais rápido do século XX. Às 19h19 de 26 de agosto, se erguiam as cortinas do balcão central da basílica vaticana, e o Cardeal Pericle Felici pronunciava a fórmula latina "habemus papam".


Dois dias antes, o Cardeal Albino Luciani escrevera à sua sobrinha, Pia: "Não sei quanto tempo durará este conclave. É difícil encontrar a pessoa apropriada para enfrentar tantos problemas que são cruzes muito pesadas. Felizmente, não corro riscos..."


Mas corria... de fato, poucas horas depois, diante dos cardeais que se inclinavam em sinal de submissão, diria: "O que vocês fizeram? Que Deus os perdoe!"


Mas a escolha não o encontrou despreparado. Estava ali, a começar pelo nome _ João Paulo I: inédito _ pronto para unir, simbolicamente, os pontificados dos dois pontífices do Concílio Vaticano II _ João XXIII e Paulo VI _ numa síntese original, nascida de uma perspectiva muito pessoal.


Essa perspectiva pessoal se confirmou logo no início do pontificado: manutenção da estrutura curial, renúncia à coroação, à tiara e à sede gestatória, assim como sua solicitação para que fossem suspensas as formalidades da audiência aos cardeais com mais de 80 anos, que não haviam participado do escrutínio, e que deveriam prestar voto de obediência ao novo pontífice.


Um pontificado iniciado com tais auspícios prometia deixar uma marca indelével na história da Igreja. Uma promessa que, todavia, não teve tempo suficiente para se concretizar. Foi brutalmente detida na noite de 28 para 29 de setembro, com o seu precoce falecimento.


Mas o breve e saudoso pontificado de João Paulo I não deixou apenas o seu sorriso franco e sincero, aberto ao mundo. Assinalou o início de uma transformação. Aqueles 33 dias bastaram para que Albino Luciani inaugurasse uma imagem de pontífice liberada de entraves e formas protocolares, a começar pelo uso simples e direito do "eu", no lugar do habitual plural majestático, e prosseguindo com seus discursos improvisados, que deram ensejo a não poucas preocupações nos âmbitos curiais.


Papa João Paulo I reafirmou continuamente e com humildade, a essencialidade da mensagem evangélica, com referências contínuas à pobreza e ao correto uso da propriedade privada.


Fonte: Rádio Vaticana

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

DIÁLOGO DO PAPA COM O CLERO EM BRESSANONE - PARTE 1


Bressanone, 09 ago (RV) - A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou o texto integral do longo diálogo do papa com o clero, quarta-feira passada, na Catedral de Bressanone. Bento XVI respondeu a 6 perguntas. Nos dias passados, apresentamos uma síntese de 4 delas. Hoje vamos focalizar as duas últimas.


A pergunta, colocada por um sacerdote franciscano, referia-se ao discurso do papa em Regensburgo, quando então ressaltava a ligação substancial entre o Espírito divino e a razão humana. Por outro lado, continuou o franciscano, o senhor sempre ressaltou a importância da arte e da beleza, da estética. Então, ao lado do diálogo conceitual sobre Deus, não deveria ser sempre reafirmada a experiência estética da fé no âmbito da Igreja, para o anúncio e a liturgia?


O papa responde, afirmando que as duas coisas devem caminhar pari passu: a razão, a honestidade da reflexão sobre a verdade e a beleza, pois uma razão que quisesse de certo modo despojar-se da beleza, seria reduzida à metade, e prosseguiu:


“Para mim, a arte e os Santos são a maior apologia da nossa fé. Os argumentos apresentados pela razão são absolutamente importantes e irrenunciáveis, mas o dissenso pode sempre permanecer de pé. Ao invés, se olhamos para os Santos, este grande facho de luz com o qual Deus atravessou a história, vemos que aí realmente existe uma força do bem que resiste aos milênios, aí existe verdadeiramente a luz da luz. E, do mesmo modo, se contemplamos as belezas criadas pela fé, diria que estas são simplesmente a prova viva da fé. Uma bela catedral é um anúncio vivo, que nos fala; e partindo da beleza da catedral, conseguimos anunciar visualmente Deus, Cristo e todos os seus mistérios”.

Onde nasce a beleza – acrescentou o papa – nasce a verdade:

“Quando, nesta nossa época, discutimos sobre a racionalidade da fé, discutimos precisamente do fato que a razão não acaba onde acabam as descobertas experimentais, ela não acaba no positivismo; a teoria da evolução vê a verdade, mas vê somente a metade da verdade: não vê que por trás está o Espírito da criação. Nós estamos lutando pelo alargamento da razão e portanto por uma razão que seja aberta também ao belo… Penso que isto é, de certo modo, a prova da verdade do cristianismo: coração e razão se encontram, beleza e verdade se tocam. E quanto mais nós mesmos conseguimos viver na beleza da verdade, tanto mais a fé poderá voltar a ser criativa também no nosso tempo”.


Um pároco faz uma pergunta ao papa sobre a diminuição dos padres e sobre a possibilidade de confiar aos leigos algumas funções do sacerdote. Vejamos a resposta do papa:


“Na minha resposta gostaria de considerar dois aspectos fundamentais. De um lado, o caráter insubstituível do sacerdote, o significado e o modo do ministério sacerdotal hoje; do outro lado – e isto hoje se destaca mais do que antes – a multiplicidade dos carismas e o fato que todos juntos são Igreja, edificam a Igreja e por isto devemos nos empenhar por despertar os carismas, que sustentam também o sacerdote. O sacerdote sustenta os outros e os outros o sustentam, e somente neste conjunto complexo e variegado a Igreja pode crescer hoje e para o futuro”.


O papa fala das dificuldades dos sacerdotes, hoje, sobrecarregados de tantas coisas a fazer. E indica uma prioridade:


“Uma prioridade fundamental da existência sacerdotal é estar com o Senhor e ter tempo para a oração. São Carlos Borromeo dizia sempre: “Não poderás cuidar da alma dos outros, se deixas que a tua desapareça. Afinal de contas, não farás mais nada nem mesmo para os outros. Deves ter tempo também para estar com Deus”… E a partir daí, ordenar depois as prioridades: devo aprender a ver o que é realmente essencial, onde é absolutamente exigida a minha presença de sacerdote e não posso delegar ninguém. Ao mesmo tempo, devo aceitar humildemente quando, muitas coisas que teria a fazer e onde seria exigida a minha presença, não posso realizar porque reconheço os meus limites. Penso que as pessoas compreenderão essa humildade”.


Bento XVI volta a destacar o valor do celibato, sinal de que o sacerdote pertence totalmente a Deus e aos outros, e termina com uma oração diante de tantas canseiras do padre:


“Rezemos ao Senhor que nos console sempre quando pensamos que não agüentamos mais; sustentemo-nos uns aos outros e então o Senhor nos ajudará a encontrar juntos as estradas justas”.