segunda-feira, 11 de agosto de 2008

DIÁLOGO DO PAPA COM O CLERO EM BRESSANONE - PARTE 1


Bressanone, 09 ago (RV) - A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou o texto integral do longo diálogo do papa com o clero, quarta-feira passada, na Catedral de Bressanone. Bento XVI respondeu a 6 perguntas. Nos dias passados, apresentamos uma síntese de 4 delas. Hoje vamos focalizar as duas últimas.


A pergunta, colocada por um sacerdote franciscano, referia-se ao discurso do papa em Regensburgo, quando então ressaltava a ligação substancial entre o Espírito divino e a razão humana. Por outro lado, continuou o franciscano, o senhor sempre ressaltou a importância da arte e da beleza, da estética. Então, ao lado do diálogo conceitual sobre Deus, não deveria ser sempre reafirmada a experiência estética da fé no âmbito da Igreja, para o anúncio e a liturgia?


O papa responde, afirmando que as duas coisas devem caminhar pari passu: a razão, a honestidade da reflexão sobre a verdade e a beleza, pois uma razão que quisesse de certo modo despojar-se da beleza, seria reduzida à metade, e prosseguiu:


“Para mim, a arte e os Santos são a maior apologia da nossa fé. Os argumentos apresentados pela razão são absolutamente importantes e irrenunciáveis, mas o dissenso pode sempre permanecer de pé. Ao invés, se olhamos para os Santos, este grande facho de luz com o qual Deus atravessou a história, vemos que aí realmente existe uma força do bem que resiste aos milênios, aí existe verdadeiramente a luz da luz. E, do mesmo modo, se contemplamos as belezas criadas pela fé, diria que estas são simplesmente a prova viva da fé. Uma bela catedral é um anúncio vivo, que nos fala; e partindo da beleza da catedral, conseguimos anunciar visualmente Deus, Cristo e todos os seus mistérios”.

Onde nasce a beleza – acrescentou o papa – nasce a verdade:

“Quando, nesta nossa época, discutimos sobre a racionalidade da fé, discutimos precisamente do fato que a razão não acaba onde acabam as descobertas experimentais, ela não acaba no positivismo; a teoria da evolução vê a verdade, mas vê somente a metade da verdade: não vê que por trás está o Espírito da criação. Nós estamos lutando pelo alargamento da razão e portanto por uma razão que seja aberta também ao belo… Penso que isto é, de certo modo, a prova da verdade do cristianismo: coração e razão se encontram, beleza e verdade se tocam. E quanto mais nós mesmos conseguimos viver na beleza da verdade, tanto mais a fé poderá voltar a ser criativa também no nosso tempo”.


Um pároco faz uma pergunta ao papa sobre a diminuição dos padres e sobre a possibilidade de confiar aos leigos algumas funções do sacerdote. Vejamos a resposta do papa:


“Na minha resposta gostaria de considerar dois aspectos fundamentais. De um lado, o caráter insubstituível do sacerdote, o significado e o modo do ministério sacerdotal hoje; do outro lado – e isto hoje se destaca mais do que antes – a multiplicidade dos carismas e o fato que todos juntos são Igreja, edificam a Igreja e por isto devemos nos empenhar por despertar os carismas, que sustentam também o sacerdote. O sacerdote sustenta os outros e os outros o sustentam, e somente neste conjunto complexo e variegado a Igreja pode crescer hoje e para o futuro”.


O papa fala das dificuldades dos sacerdotes, hoje, sobrecarregados de tantas coisas a fazer. E indica uma prioridade:


“Uma prioridade fundamental da existência sacerdotal é estar com o Senhor e ter tempo para a oração. São Carlos Borromeo dizia sempre: “Não poderás cuidar da alma dos outros, se deixas que a tua desapareça. Afinal de contas, não farás mais nada nem mesmo para os outros. Deves ter tempo também para estar com Deus”… E a partir daí, ordenar depois as prioridades: devo aprender a ver o que é realmente essencial, onde é absolutamente exigida a minha presença de sacerdote e não posso delegar ninguém. Ao mesmo tempo, devo aceitar humildemente quando, muitas coisas que teria a fazer e onde seria exigida a minha presença, não posso realizar porque reconheço os meus limites. Penso que as pessoas compreenderão essa humildade”.


Bento XVI volta a destacar o valor do celibato, sinal de que o sacerdote pertence totalmente a Deus e aos outros, e termina com uma oração diante de tantas canseiras do padre:


“Rezemos ao Senhor que nos console sempre quando pensamos que não agüentamos mais; sustentemo-nos uns aos outros e então o Senhor nos ajudará a encontrar juntos as estradas justas”.

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