quarta-feira, 20 de junho de 2012

“Mais uma vez a questão do aborto”

Texto retirado do Blogger de Sua Excelência Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aracaju

Uma esclarecedora nota pastoral - I  


Caro Irmão Internauta, transcrevo a Nota Pastoral de Dom Keller, Bispo de Frederico Westphalen e exprimo meu apoio ao que ele escreveu. Como cristãos e como cidadãos brasileiros, temos o dever de tomar posição e agir diante de tão grave questão!


DOM ANTONIO CARLOS ROSSI KELLER
PELA GRAÇA DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
BISPO DE FREDERICO WESTPHALEN (RS)
Nota Pastoral
“Mais uma vez a questão do aborto”
“Aquele, portanto, que violar um só desses menores mandamentos e ensinar os homens a fazerem o mesmo, será chamado o menor no Reino dos Céus. Aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse será chamado grande no Reino dos Céus.” (São Mateus 5,19)
Caros Diocesanos de Frederico Westphalen, irmãos e irmãs que compreendem o valor da vida humana.
Mais uma vez o Bispo Diocesano sente-se no dever, derivado de seu Ministério Episcopal, de vir a público e manifestar-se em relação ao tema do aborto. Mais especificamente, às veladas e covardes ações levadas a cabo por autoridades, que deveriam zelar pela defesa da vida, mas que “na calada da noite” estão empenhadas em implantar a prática do aborto em nossa Pátria, passando por cima da vontade da grande maioria da população que é contrária a esta prática.
Poucos dias atrás, os jornais “Folha de São Paulo”, “O Estado de São Paulo” e “Correio Brasiliense”, traziam, em suas primeiras páginas, notícias de ações que visam, na prática a implantação do aborto no país.
Somente a título de exemplo, para justificar esta preocupação em relação à introdução velada da prática do aborto, cito, em primeiro lugar “A Folha de São Paulo”. Em reportagem de capa afirmava que, segundo o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães: O SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO PASSARÁ A ACOLHER AS MULHERES QUE DESEJAM FAZER ABORTO E ORIENTÁ-LAS SOBRE COMO USAR CORRETAMENTE OS MÉTODOS EXISTENTES PARA ABORTAR. CENTROS DE ACONSELHAMENTO INDICARÃO QUAIS SÃO, EM CADA CASO, OS MÉTODOS ABORTIVOS MAIS SEGUROS DO QUE OUTROS.
A Folha afirmava ainda que o modelo será copiado do Uruguai, que o adota desde o ano de 2004.
A PROPOSTA, diz a FOLHA, FOI ABORDADA NA ÚLTIMA SEMANA DE MAIO PELA MINISTRA ELEONORA MENICUCCI, QUE AFIRMOU 'SOMENTE SER CRIME PRATICAR O PRÓPRIO ABORTO, MAS QUE O GOVERNO ENTENDE QUE NÃO É CRIME ORIENTAR UMA MULHER SOBRE COMO PRATICAR O ABORTO'.
Depois de orientada sobre como praticar o aborto, uma vez consumado o delito, a mulher passaria por uma nova consulta para evitar maiores conseqüências pós aborto. Ainda segundo a Folha, PARA OS QUE DESENVOLVERAM A POLÍTICA, ELA NÃO SÓ É UMA ATITUDE LEGAL, COMO É ÉTICA E DE DIREITO HUMANO BÁSICO.
É preciso recordar que a matéria veiculada pela “Folha de São Paulo” traz dados inverídicos em relação aos números do aborto do Brasil. A “Folha” acolhe os números do governo, que afirma que há mais de um milhão de abortos por ano, no Brasil. Os números reais são bem outros. Hoje, no Brasil, acontecem cerca de cem mil abortos por ano, e este número está diminuindo pouco a pouco. Isto é o que pode se concluir dos próprios dados do Ministério da Saúde, que mostram que o número de internações por aborto no Brasil, nos últimos quatro anos, está diminuindo à taxa de 12% ao ano, todos os anos. Na matéria veiculada pelo jornal paulistano, não são apresentados os números reais, por exemplo, das internações por razões de aborto. Ao afirmar que são cerca de duzentas mil as internações por causa do aborto, o jornal não leva em consideração que destas duzentas mil, cerca de cinquenta mil são por causa do aborto provocado. As outras cento e cinquenta mil são devidas ao aborto espontâneo. Ou seja, há um propósito do governo, secundado pela “Folha de São Paulo” em inflar os números do aborto...
Há uma “Pesquisa Nacional do Aborto”, levada a cabo pela Universidade de Brasília em conjunto com a ANIS, que revela números mais reais: No Brasil, de cada duas mulheres que provocam o aborto, uma é internada. Portanto, se há cinquenta mil internações por ano por aborto provocado, isto significa que são realizados cem mil abortos por ano e não o milhão e meio de abortos provocados, números estes anunciados pelas autoridades.
A realidade mostra não só que os números dos que são contrários ao aborto, entre a população brasileira, estão aumentando. Mas que também as brasileiras estão abortando cada vez menos, no Brasil. Esta é a realidade dos números.
A Matéria de “O Estado de São Paulo”, por sua vez, trata da elaboração, por parte do Ministério da Saúde e de um “grupo de especialistas” de uma “cartilha” que tem como finalidade orientar as mulheres que desejam abortar. “A INTENÇÃO É FECHARMOS O MATERIAL DE ORIENTAÇÃO EM, NO MÁXIMO, UM MÊS", AFIRMOU O COORDENADOR DO GRUPO DE ESTUDOS SOBRE O ABORTO DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA (SBPC), THOMAZ GOLLOP. O FORMATO FINAL DO PROGRAMA SERÁ DEFINIDO PELO MINISTÉRIO. A CARTILHA CONTERIA, POR EXEMPLO, INFORMAÇÕES PARA MULHER ESCOLHER O LUGAR DO PROCEDIMENTO".
Já o “Correio Brasiliense” noticiava que ao longo do mês de junho uma comissão de trabalho se reunirá com os técnicos do Ministério da Saúde para formular uma norma técnica que servirá de base para um programa de aconselhamento para mulheres com gravidez indesejada. Além disso, o Correio informa que o Ministério da Saúde tem a intenção de liberar a venda de remédios abortivos, hoje de uso reservado à rede hospitalar. Desta maneira, os médicos poderão orientar as mulheres sobre como praticar o aborto seguro e os medicamentos necessários estarão nas farmácias amplamente disponíveis para o público.
Interessante que no decorrer de poucos dias, aparece como que uma onda gigantesca em setores do atual governo a favor, em última instância, do aborto, veiculada por grandes e importantes jornais do país.
Muito mais interessante e importante, seria recordar o compromisso que a atual presidente da República assinou, no dia 16 de outubro de 2010, durante a campanha eleitoral, declarando que: "SOU PESSOALMENTE CONTRA O ABORTO E DEFENDO A MANUTENÇÃO DA LEGISLAÇÃO ATUAL SOBRE O ASSUNTO. ELEITA PRESIDENTE DA REPÚBLICA, NÃO TOMAREI A INICIATIVA DE PROPOR ALTERAÇÕES DE PONTOS QUE TRATEM DA LEGISLAÇÃO DO ABORTO E DE OUTROS TEMAS CONCERNENTES À FAMÍLIA E À LIVRE EXPRESSÃO DE QUALQUER RELIGIÃO NO PAÍS. [...] COM ESTES ESCLARECIMENTOS, ESPERO CONTAR COM VOCÊ PARA DETER A SÓRDIDA CAMPANHA DE CALÚNIAS CONTRA MIM ORQUESTRADA".
Assim, apesar de todas as negativas e desculpas, o que se vê, concretamente, é um encaminhamento por baixo dos panos de medidas que visam pura e simplesmente, a prática livre do aborto, já que o grupo que está elaborando, junto com o Ministério da Saúde a nova Norma Técnica que pretende criar em todo o país centros de orientação sobre o aborto, liberalizar a venda de drogas abortivas na rede nacional de farmácias e difundir uma cartilha que ensine as mulheres como e onde praticarem o aborto é exatamente o mesmo Grupo de Estudos sobre o Aborto, coordenado pelo mesmo médico Thomas Gollop, cujo convênio com o Ministério da Saúde estava sendo contratado pelo governo enquanto a atual presidente, na época candidata garantia que jamais promoveria o aborto no Brasil.
Ou seja, hoje, em nossa Pátria está acontecendo na prática um verdadeiro ataque que visa obter à revelia da atual legislação e da imensa maioria do povo brasileiro, a pura e simples liberalização do aborto. Há anos nosso país vem sendo alvo destes ataques, já que há muito dinheiro investido por organizações estrangeiras para obter, por razões ideológicas e de cunho geopolítico, a pura e simples liberalização do aborto no Brasil e demais países da América Latina.
É preciso reagir a esta sanha abortista, que navega de velas soltas, alimentada por interesses desumanos, e que contraria o desejo da imensa maioria do povo brasileiro. Calar-se, fingir que o problema não existe e desvincular-se de uma ação de reação a esta sanha, é covardia e traição aos princípios mais elementares da fé cristã que professamos.
Escrevo esta “Nota Pastoral” ainda sob o efeito da tristeza pelo falecimento de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, Bispo Emérito de Guarulhos (SP), um digno e combativo Bispo da Santa Igreja Católica, que enfrentou com coragem e destemor até mesmo perseguições e calúnias, por sua intransigente defesa da vida.
Há dias, do leito do hospital, Dom Bergonzini escrevia: “Se Ele determinar que eu continue por aqui, todos daremos as mãos e seguraremos nas mãos de Deus para, juntos, combatermos as iniquidades e propagarmos o Evangelho por todos os telhados... e por todos os meios existentes”.
Deus determinou outra coisa, e este seu servo certamente já goza da visão beatífica. Sua dedicação em defesa da vida deve servir-nos de alento neste combate exigente.
Sabedores de que o aborto é um pecado gravíssimo contra Deus e contra a humanidade, venho apresentar algumas indicações práticas, no sentido de que se busque reagir contra esta imposição por parte das autoridades que deveriam cuidar e promover a vida. É preciso frear estes ataques à vida humana. Tais indicações são oferecidas pela Comissão de Defesa da Vida, do regional Sul 1 da CNBB (São Paulo) e enquadram-se no direito que todos nós, católicos temos, como cidadãos deste país, em nos manifestar.
1. Telefonar, enviar fax e mensagens ao Ministério da Saúde e à Casa Civil da Presidência, mostrando com clareza, ao Ministério da Saúde e à Casa Civil da Presidência que o povo brasileiro compreende exatamente o que nosso governo está fazendo e não está de acordo com a implantação do aborto no país.
2. Pedir em seguida (e isto é importante, já que são aqueles que estão à frente destas ações de violência à vida):
(A) A DEMISSÃO IMEDIATA DA MINISTRA ELEONORA MENICUCCI DA SECRETARIA DAS MULHERES.
(B) A DEMISSÃO IMEDIATA DO SECRETÁRIO DE ATENÇÃO À SAÚDE DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, HELVÉCIO MAGALHÃES.
(C) O ROMPIMENTO IMEDIATO DOS CONVÊNIOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE COM O GRUPO DE ESTUDO E PESQUISA SOBRE O ABORTO NO BRASIL.
Os contatos para estas manifestações são os seguintes:
CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA: GLEISI HELENA HOFFMANN, MINISTRA-CHEFE DA CASA CIVIL
TELEFONES: (61) 3411-1573, 3411-1935, 3411-5866, 3411-1034
FAX: (61) 3321-1461, 3322-3850
MINISTÉRIO DA SAÚDE: ALEXANDRE PADILHA , MINISTRO DA SAÚDE
TELEFONES: (61) 3315-2392, (61)3315-2393, (61) 3315-2788, (61) 3315-9260, (61) 3315-9262
FAXES: (61) 3224-8747, (61) 3315-2680, (61) 3315-2816
SECRETÁRIO DE ATENÇÃO À SAÚDE: HELVÉCIO MIRANDA MAGALHÃES
TELEFONES: (61) 3315-2626 3315-2133
FAX: (61) 3225-0054
MAIL: helvecio.junior@saude.gov.br
Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, abençoe nossa Pátria e nos livre da praga do Aborto.
Frederico Westphalen, 13 de junho de 2012.
Festa Litúrgica de Santo Antonio
Padroeiro da Catedral Diocesana
+ Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen

DOM LUCIANO JOSÉ CABRAL DUARTE: O HOMEM QUE COGITA E CULTIVA Á FILOSOFIA (I-PARTE)


Sua trajetória, exemplo para outras existências.

Dom Luciano José Cabral Duarte nasceu em 21 de janeiro, 1925, na casa da Rua Japaratuba, nº137, em média de 11 horas da manha, foi registrado ás fls 70, do livro nº17 do Registro Civil na cidade de Aracaju/SE, filho de José de Góes Duarte (in memória) e Célia Cabral (in memória), foi batizado na Catedral Diocesana em Aracaju, no dia 7 de fevereiro de 1925. Em um dos raros documentos, próprio Luciano relata um pouco de sua infância, assim afirma o jornalista João Melo, no seu programa Videoteca Aperipê Memória, dizendo:

A minha infância se passou, parte de Aracaju, parte no interior. Inicialmente em Aracaju, depois meu pai, como telegrafista que era, foi designado para São Cristovão, de modo que eu passei em São Cristovão uns anos, de quatro anos de idade até oito. Depois voltei a Aracaju, meu pai foi transferido para cá, trouxe a família e o resto da minha infância eu passei aqui. (MORAIS, 2008. p.34)

Desempenhou seus estudos secundários em Aracaju e os superiores em Olinda/PE e São Leoldo/RS, também estudou na Escola de Aprendizes Artífices, logo após na Escola Técnica, hoje conhecida como IFS (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe), sempre um aluno dedicado, esforçado que chegava até se o primeiro colocado na turma. Mas uma vez Dom Luciano relata um pouco de sua vida escolar:

O meu curso primário foi feito aqui mesmo em Aracaju. A minha tia, irmã da minha mãe, chamava-se Maria Cabral, era professora da Escola Industrial de Sergipe, que naquele tempo  se chamava Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe. Ela tomava conta assim de uma parte, digamos, da parte de humanidades. Ela me conduzia á escola, e eu aproveitava das lições que ela dava. Era professora muito boa, experiente, e lá eu fiz, na Escola de Artífices de Sergipe, três anos com minha tia Zizi, e o quarto ano com a professora Leyda Régis. A minha tia Maria Cabral já faleceu. A professora Leyda, uma pessoa excelente, muito dedicada aos seus afazeres, ás suas obrigações, ainda viva. Esse foi meu curso primário. (MORAIS, 2008. p.35)

No dia 15 de fevereiro de 1936, Dom Luciano resolve ingressar no Seminário Menor na Diocese de Aracaju, hoje atual Colégio Arquidiocesano, entrou com os seus  11 anos de idade, e lá estudou seis anos, que equivale aos estudos de ginásio e cientifico,  e sua mãe Góes Duarte, com o coração partido em ver seu filho separando-se dela, mas apoiando a sua decisão e ao mesmo tempo o abençoando. Dom Luciano relatar como surgiu o desejo, ou melhor, como foi o seu chamado, dizendo:

Meu pai, como disse, era telegrafista e, nessa ocasião, ele tinha ido substituir um telegrafista de São Cristovão, onde, naquele tempo, havia um convento bem populoso, deixado pelos alemães. E havia um frade chamado frei Pascásio. Ele se destacava por uma energia, pelos seu trabalho. Fazia umas homilias muito fortes. Na casa do telégrafo, meu pai ocupava a sala da frente para trabalhar e a família morava no resto da casa. Esta casa ainda hoje está, ela é quase diagonal com a prefeitura de São Cristovão. Há algum tempo eu fui a São Cristovão e solicitei fazer uma visita nessa casa pra me reencontrar com a minha primeira infância. No dia de domingo de manhã havia missa na Igreja Matriz de São Cristovão, e então frei Pascásio vinha do convento de São Francisco por uma rua estreita  que até hoje lá está. Passava pela praça principal, a praça da matriz, e minha mãe, que sempre cuidou em todos os aspectos da formação dos seus filhos, me preparava, vestia e colocava sentado na porta, ponto, de sapato, vestido com a veste domingueira. O frade passava, me cumprimentava, me pegava pela mão e, satisfazendo ao meu desejo, me levava para a Matriz. Lá eu o ajudava. A minha primeira missa eu ajudei sem saber direito como. Pouco a pouco eu fui me acostumando, e era um prazer. De modo que, quanto mais eu remonto ao meu passado, acho que o primeiro sinal de vocação surgiu aí. Veio-me a pergunta: - E por que não eu? E daí, pouco a pouco a idéia foi amadurecendo. São Cristovão é uma cidade mística. (MORAIS, 2008. p.40)

Já com os seus 17 anos de idade, Luciano José chegou a Olinda em fevereiro de 1942, para pode dá inicio aos estudos na área da Filosofia e Teologia, já que em Aracaju não tinha Seminário Maior, escrevia muitas cartas, revelando a sua saudade, o anseio de pode chegar as férias, para ver sua família, principalmente sua avó que estava naquele com problemas na saúde. Em 1945, o seminarista Luciano José, com os seus 20 anos de idade, parte para São Leopoldo, no Rio Grande do Sul para conclui seus estudos, 4 de agosto de 1946 se tornou diácono, faltando poucos dias para completar 23 anos de idade, o diácono Luciano foi ordenado sacerdote no dia 18 de janeiro de 1946, já iniciando suas atividades como sacerdote na Igreja São Salvador.Mas atualmente, vive recluso na sua residência devido ao seu frágil estado de saúde.

Suas Atividades Desempenhadas

Antes de se torna Bispo, Dom Luciano José Cabral Duarte trabalhou como: Assistente Eclesiástico da Juventude Universitária Católica, Diretor Espiritual do Seminário Menor de Aracaju, Presidente da Câmera de Ensino Superior do Conselho Estadual de Educação, liderando o trabalho para a constituição da Fundação Universidade Federal de Sergipe, foi enviado de forma especial para a cobertura das Sessões do Concilio Vaticano II e para cobertura do Congresso Internacional Eucarístico de Bombaim.

Durante o episcopado, se tornou Bispo Auxiliar de Aracaju (1966- 1971), Presidente Nacional do MEB (1971-1977), foi membro do Conselho Federal de Educação (1974-1986), Presidente do Departamento de Ação Social do “CELAM” (1972- 1978), também foi membro da Comissão Pastoral da CNBB (1979-1983), primeiro Vice-Presidente do CELAM (1979-1983) e por fim Arcebispo de Aracaju (1971-1998). 

Novas Ordenações Sacerdotais: Arquidiocese prepara mais 7 ordenações sacerdotais


O Arcebispo de Aracaju, Dom José Palmeira Lessa, o Bispo Auxiliar, Dom Henrique Soares da Costa, futuros sacerdotes e familiares convidam a todos para as celebrações em que serão ordenados sacerdotes:

- Diác. Alex Sandro das Chagas, Djavam Ribeiro Araújo e Fabiano dos Santos, será no dia 22 de junho, às 19h, na Catedral Metropolitanade Aracaju;

- Diac. Anderson Leão, 29 de junho, às 19h, na Paróquia SãoJoão Batista, Conj. João Alves, Nossa Sra. do Socorro;

- Diac. Flávio Roberto Rocha, 9 de julho, às 19h30, ParóquiaNossa Senhora de Guadalupe, Coroa do Meio, Aracaju;

- Diác. Edvan dos Santos Nascimento, dia 11 de julho, às19h, na Paróquia São José-Aracaju;

- Diác. Marcelo Conceição dos Santos, dia  13 de julho, às 19h30, na Paróquia Santa Cruze Sagrado Coração de Jesus, em Carira.

domingo, 17 de junho de 2012

Papa acusa pedófilos de 'solapar credibilidade da Igreja'


VATICANO — O Papa Bento XVI declarou neste domingo, em uma mensagem por ocasião do 15º Congresso Eucarístico Internacional, concluído em Dublin, que os religiosos pedófilos "solapam a credibilidade da mensagem da Igreja", quebrando "de maneira terrível" a fé dos fiéis.
Em mensagem em tom especialmente duro, citando concretamente os casos de pedofilia registrados na Igreja irlandesa, o Papa afirmou que a "gratidão e a alegria da história tão grande de fé" dos irlandeses "se viu recentemente abalada de uma maneira terrível com a revelação dos pecados cometidos por padres e pessoas consagradas contra gente sob seus cuidados".
"No lugar de lhes mostrar o caminho para Cristo, para Deus, de lhes dar um testemunho de sua bondade, abusaram deles, solapando a credibilidade da mensagem da Igreja".
"Como se explica que pessoas que recebem regularmente o corpo de Cristo e confessem seus pecados no sacramento da penitência tenham pecado desta maneira? Isto segue sendo um mistério, mas é certo que seu cristianismo não é alimentado pelo encontro gozoso com Cristo: se tornou uma mera questão de hábito".

domingo, 10 de junho de 2012

Por que Jesus foi tão duro com Seus adversários no Evangelho de hoje?


Por que Jesus foi tão duro com Seus adversários no Evangelho de hoje? Que é esse pecado contra o Espírito Santo, ou melhor, essa “blasfêmia” contra o Espírito? Que significa afirmar que o blasfemador contra o Espírito “nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno”?

Primeiro. A indignação de Jesus é pela desonestidade dos Seus adversários. Estão vendo claramente que Ele acabara de realizar um exorcismo; sabem que Satanás não é inimigo de Satanás e, no entanto, atribuem o exorcismo ao Diabo.

Ora, Jesus é o Messias, o Ungido com o Espírito Santo. Pleno do Espírito, é pelo Espírito Santo, Dedo de Deus (cf. Mt 12,28; Lc 11,20) que Ele pratica os exorcismos. Então, os Seus adversários atribuem ao espírito maligno o que é obra do Espírito Santo! Blasfemam, portanto, contra o Espírito, injuriam, chamam de demônio, de Maligno ao Espírito de Deus, que é pura benignidade!

Mas, em sentido mais profundo, o que é o pecado contra o Espírito Santo? Não se trata de um simples pecado, de um ato primeiramente, mas de uma atitude. Peca contra o Espírito quem conscientemente se fecha à Sua ação, diz-Lhe não quando poderia dizer-Lhe sim. Pecar contra o Espírito é fechar-se conscientemente à graça de Deus sem esforço algum para sair dessa situação. É pecado gravíssimo porque termina por extinguir o Espírito em nós, pois Deus nunca violenta a nossa liberdade. E quem não se deixa guiar pelo Espírito de Cristo não pertence a Cristo, está morto para a Vida. Uma pessoa que continuamente se feche para a graça, fruto da ação do Espírito em nós, corre o risco de se tornar tão insensível que já não mais sinta necessidade de Deus nem Lhe dê lugar na sua vida. Assim, termina por viver e morrer sem conversão, sem arrependimento, sem abertura à graça de Deus, fechando-se eternamente para a salvação!

Segundo. Por que Jesus afirma que não há perdão para este pecado? Antes de tudo uma afirmação clara e absoluta: não há pecado que não possa ser perdoado, não há pecado irremissível! A fé da Igreja é claríssima: Cristo, pela Sua morte e ressurreição e pelo dom do Seu Espírito, é fonte inesgotável de misericórdia e perdão. Se houvesse um pecado que não fosse possível ao Senhor perdoar, teríamos que admitir que, ao menos em uma situação, o pecado é maior e mais forte que a graça e Satanás mais forte no seu mal que Jesus na Sua misericórdia salvífica. Ora, isto é impossível e é uma blasfêmia contra o infinito amor do Salvador! A Escritura é clara: “Onde abundou o pecado, a graça superabundou!” (Rm 5,20) Mas, então, por que Jesus afirma categoricamente que esse pecado contra o Espírito não terá perdão? Trata-se de um exagero linguístico, oratório, destinado a nos sacudir, a chamar atenção para a suma gravidade de alguém ir se fechando para a ação do Espírito até tornar-se insensível e não mais ser capaz de se arrepender. O Catecismo da Igreja Católica explica-o de modo muito claro: “A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar a impenitência final e à perdição eterna” (n. 1864).

Estejamos atentos para que, de infidelidade em infidelidade, não nos tornemos insensíveis ao Espírito do Senhor que age em nós. Estejamos atentos para não receber em vão a graça de Deus. Sobretudo quando o Espírito, pela voz da consciência nos mostrar o pecado, que sejamos dóceis, busquemos combater a pecaminosidade e confessar o pecado cometido, com o sério propósito de emenda de vida.

sábado, 9 de junho de 2012

A Música: Esplêndido instrumento para levar o homem a Deus!


“A criação é um evento sonoro. A criação é harmonia. E a harmonia se expressa através de uma forma musical”.

Esta é a maneira de expressar a importância da música, segundo o Cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, entrevistado no programa de rádio Ecclesia in Urbe, que vai ao ar toda quinta-feira na Rádio Vaticano.

A música é uma linguagem universal que leva à descoberta da fé, disse o cardeal. A relação entre essas duas realidades está enraizada nas brumas do tempo, quando, como relatado no livro de Provérbios, “dançando e cantando Deus criou a harmonia do universo”.

Exatamente nesta relação antiga, mas sempre nova, o cardeal Ravasi concentrará o diálogo com o maestro Riccardo Muti, de renome internacional, que será realizado segunda-feira, 4 de junho, na Basílica de Santa Mariaem Ara Coeli, em Roma, às 19:30, intitulado “Em Diálogo: Fé e música”.

Este é o evento final da série de encontros do projeto “Una porta verso L`infinito”, organizado pelo departamento de comunicação social do Vicariato em colaboração com o Conselho Pontifício para a Cultura, que, desde dezembro, tem enriquecido a capital com iniciativas que realçam o esplêndido papel da arte como instrumento para levar o homem a Deus.

“Sou ligado a Muti a partir de uma profunda amizade e conheço bem a sua sensibilidade – disse o cardeal em entrevista à rádio. Com ele, muitas vezes refletimos sobre a necessidade de tecer a busca musical contemporânea com as novas formas de expressão, as novas linguagens, as novas gramáticas musicais”.

Tomando como sugestão esta “simbiose”, o diálogo entre a fé e a música pode e deve continuar ainda no mundo contemporâneo, exortou o cardeal. “Deve sempre ecoar as palavras do Salmo 47 que diz: “Cantai a Deus com a arte”, afirmou. Uma expressão, difícil de decifrar, que significa adaptar-se para interceptar a evolução da música, do canto, da cultura em geral”.

Isto, disse Ravasi, é explicado pelo fato de que, por um lado, “a liturgia tem o seu sentido canônico, seu horizonte sagrado, sua numen”; por outro lado, liturgia significa “obra de um povo e o povo tem a sua linguagem, sua cultura que se desenvolve.

Recordou, então, as palavras de Shakespeare, quando ele escreveu: “Cuidado com o homem que não ama a música. “Ele é como uma noite na caverna, onde as víboras se escondem”. O cardeal disse que “o homem de hoje precisa da música”.

A música, acrescentou, “tem uma dimensão de harmonia, de redenção, de perfeição – é apolíneo, como dizia a grande cultura grega – e pode ao mesmo tempo inquietar, perturbar: o aspecto dionisíaco”.

É um “paradoxo que existe até hoje”, afirmou Ravasi: a música, na verdade, é “uma das linguagens fundamentais de comunicação, especialmente para os jovens, mas às vezes tem uma dimensão interna de estupor o pensamento”.

Quando se torna “exasperado”, explicou o cardeal, esta “pode representar também o drama da juventude de hoje e de todos aqueles que têm uma meta a alcançar.” Neste sentido, concluiu, podemos dizer que a música é “necessária” porque “registra o bem e o mal, que são a massa da história da humanidade”.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O ânimo de Bento XVI diante da traição de seu colaborador. Entrevista com Gianfranco Ravasi


“Não excluo que, no ânimo do papa, apesar da tranquilidade que transparece do lado de fora, haja aquele sentimento que Jesus também explicitou: o desprezo“.

São quase três da tarde quando o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, sai ofegante dos pavilhões da Feira Milanocity, onde proferiu o discurso inicial do Congresso Teológico Pastoral, que nessa quarta-feira, 30, abriu o VII Encontro Mundial das Famílias, para depois conceder uma coletiva de imprensa e, por fim, responder a inúmeras entrevistas individuais.

“Jesus conhece as ansiedades e as tensões das famílias, também as dos filhos difíceis de comportamentos inexplicáveis”, lembrou, na palestra da manhã.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 31-05-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Eminência, o papa falou do caso Vatileaks e disse que os acontecimentos dos últimos dias o entristeceram…

Sim, mas ele também reiterou a certeza do apoio que vem de Deus à sua Igreja.

No fundo, o que aconteceu com a prisão do ajudante de quarto afetou também a “família” pontifícia, a família do papa.

A família representa um componente fundamental da religião, é um modelo que define a própria Igreja. Sob essa luz, podemos entender como o esplendor e a miséria humana, que emergem na história da família, também estão presentes na família da Igreja.

Falemos da Cúria: os documentos publicados e o que aconteceu na semana passada fazem-na aparecer atravessada por grandes tensões. É isso?

Seguramente, há problemas, não o nego. Além disso, na historicidade, nós nos “empoeiramos”, sem dúvida. Às vezes, pode-se caminhar na lama, sempre foi assim, em certa medida é inevitável. Além disso, na própria experiência de Jesus, houve uma traição clamorosa por parte de uma pessoa que ele tinha por perto, e estamos falando de algo mais grave, parece-me, do que as notícias destes dias. Dito isso, houve e continua havendo uma ênfase excessiva que acaba veiculando uma imagem da Santa Sé não correspondente à realidade.

O papa falou de “ilações gratuitas”…

Infelizmente, o método normal da comunicação é totalmente centrado no excesso. Existe uma mitização dos fenômenos. Viajando pelo mundo, e falando com tantos jovens, mesmo com não crentes, ao invés, encontrei atenção e disponibilidade ao diálogo e pude assim redescobrir que existe uma mitização sobre a Igreja que não se verifica na realidade.

Como Bento XVI está reagindo diante dessas dificuldades?

Devo dizer que a sua atitude sinceramente me impressiona. Eu o vi há pouco. Ele parece estar sereno, tranquilo, e eu sempre o conheci assim, ao contrário de alguns clichês midiáticos. Mas não excluo que, no seu ânimo, também haja aquele sentimento que o próprio Jesus explicitou, o desprezo. Que não é a ira nem a cólera. Essa é uma interpretação minha, o papa nunca transpareceu isso. Todos reconhecem que ele está sereno. Mas a sua serenidade não é a de alguém que ignora o mal. Indubitavelmente, ele conhece as coisas e tem um senso moral muito forte.

Biotecnologia: entre riscos e benefícios

O doutor Alberto Carrara, LC, fala dos desafios bioéticos da biotecnologia médica


ROMA, sexta-feira, 1º de junho de 2012 (ZENIT.org) Ainda há muita confusão sobre a pesquisa e o uso das biotecnologias. As finalidades utilitárias confundem riscos e benefícios. O tema é particularmente relevante por suas implicações bioéticas, e, para tentar esclarecer alguns de seus aspectos, ZENIT entrevistou o Dr. Alberto Carrara, LC, relator da conferência "Biotecnologias médicas e desafios bioéticos contemporâneos", realizada no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, de Roma, em 29 de maio. A conferência foi a última do ano letivo no mestrado em Ciência e Fé.

Carrara é doutorem Biotecnologias Médicaspela Faculdade de Medicina da Universidade de Pádua e assistente na Faculdade de Filosofia do Regina Apostolorum. É membro do Grupo de Neurobioética (GdN) desde 2009 e da Sociedade de Neuroética desde 2010.

Dr. Carrara, pode nos explicar a diferença entre a biotecnologia moderna e a biotecnologia tradicional?

Dr. Carrara: Vamos primeiro definir o que se entende por "biotecnologia", para contextualizar e para não levantar mal-entendidos. Em geral, esse termo se refere à utilização de material orgânico de acordo com um projeto racional, que visa a um processo mais ou menos complexo e articulado para usá-lo em proveito do ser humano. Esta definição genérica inclui a biotecnologia chamada de "tradicional", que o engenheiro húngaro Karl Ereky definia com a criação intensiva de suínos, com base na utilização de resíduos de processamento de açúcar de beterraba, e todos os processos arcaicos de produção de alimentos, como a fermentação, as cruzas na criação e na agricultura. Por outro lado, também inclui a biotecnologia "inovadora", que pode ser definida como a aplicação de princípios científicos e de engenharia para a produção de materiais a partir de agentes biológicos, utilizando o conhecimento adquirido com a biologia, com a bioquímica, a genética, a microbiologia, a engenharia bioquímica, a química combinatória e os processos de separação.

A diferença substancial entre as duas é a especificidade da ação do cientista. Conhecemos hoje, à luz da descoberta e da caracterização do material genético e dos seus mecanismos de operação, o material de base, o DNA, para a produção das proteínas. As proteínas são os "tijolos" que compõem a maior parte das funções e das estruturas vitais dos organismos vivos. As proteínas são os fármacos mais comuns, como a insulina e o ativador tecidual do plasminogênio, os hormônios, os neurotransmissores, para citar alguns. A "seleção", que era feita anteriormente a olho nu entre as melhores espécies nas cruzas, agora é feita de forma específica no nível genético. Esta é a maior diferença entre as biotecnologias "tradicionais" e as "inovadoras". A biotecnologia "inovadora" aplica a tecnologia à matéria viva (organismos e seus componentes), para modificar ou usar de forma direcionada as características desse material orgânico, no objetivo de obter novos conhecimentos, bens e serviços.

A tecnologia na área médica sofreu uma evolução considerável nas últimas décadas. Alguns estudiosos, filósofos, psicólogos e pesquisadores sentiram a necessidade de regular procedimentos e técnicas de acordo com uma linha ética comum. Neste contexto, como a ética interage com as ciências?

Dr. Carrara: Desde os anos 70, quando Potter cunhou o neologismo "bioética", a ética começou formalmente a se interessar pela ciência e pela tecnologia. Não que antes não se importasse. A ética é uma atividade humana e envolve tanto o pesquisador quanto qualquer cidadão. A ética interage com a ciência no sentido de que a ciência não pode ser auto-referencial: não podemos, nós, os cientistas, achar no método científico em si mesmo as regras para a nossa conduta. Deixe-me explicar. O cientista descobre, interroga a natureza, dizemos que ele sempre traz à tona aspectos novos. Mas a reflexão sobre como aplicar essas descobertas, até que ponto, especialmente se elas tocam a dignidade e o valor intrínseco da pessoa humana, vai além do método científico. É então que a reflexão filosófica vem ajudar a ciência: a partir de certas premissas antropológicas, procurando os critérios e as regras para a aplicação das descobertas científicas, para salvaguardar a dignidade humana e o bem comum.

Engenharia genética, nanotecnologia, biotecnologias e neurociências: quais são os principais benefícios delas para os seres humanos? E quais são os perigos?

Dr. Carrara: Os benefícios reais são imensos e bem concretos, frutos dessas "palavrinhas" tantas vezes caluniadas. Basta pensarmos que, desde1982, ainsulina humana, que todos os dias é administrada pelos pacientes com diabetes, é uma insulina "r", ou seja, recombinante, fruto da engenharia genética. As pesquisas genéticas para a detecção precoce do câncer, por exemplo, é uma nanotecnologia de ponta, desenvolvida a partir do conhecimento que nós temos da nossa herança genética e da ação das proteínas. Na neurociência, o uso de neurotransmissores produzidos pela biotecnologia ajuda milhões de pacientes com comprometimento cognitivo, com transtorno de déficit de atenção, etc. E não podemos nos esquecer do pioneirismo de tecnologias avançadas de estimulação cerebral, utilizadas, mesmo que seja em poucos casos até agora, para o tratamento do mal de Parkinson e de distúrbios depressivos sérios. Mas, se os benefícios são enormes, os riscos andam de mãos dadas com eles. É claro que os filmes de ficção científica exacerbam as coisas, mas tudo depende de como o ser humano, com as políticas sociais e econômicas, irá abordar o potencial benéfico da biotecnologia. Como qualquer outro recurso da ciência e da engenhosidade humana, a biotecnologia não deve ser demonizada, mas usada para o bem comum de todos os homens. Para evitar riscos potenciais e reais, precisamos nos esforçar para fazer uma discussão documentada, calma e objetiva, e oferecê-la como uma contribuição obrigatória para a informação, especialmente para os não especialistas, procurando promover a conscientização sobre os eventos científicos e biotecnológicos que marcam o nosso tempo.

À luz da neurociência moderna, a alma ainda é um assunto filosófico digno de interesse? Há espaço para ela na reflexão contemporânea? Como se insere a questão da alma na relação entre ciência e fé?

Dr. Carrara: O tema da alma é, talvez, desde o início da civilização até hoje, uma questão que o homem trás consigo, ela o segue como sua própria sombra. Eu estou certo de que, justamente à luz da moderna neurociência e das neurotecnologias, a realidade da alma humana vai emergir em todo o seu esplendor. Há espaço para a alma humana no debate filosófico precisamente porque é o homem, que é um ser uni-dual, que consiste de corpo e de alma, aquele que faz tanto a ciência quanto a reflexão filosófica sobre ela. Não há conflito entre ciência e fé. Basta respeitar o âmbito e os métodos de cada disciplina. Hoje, o grande problema é a falta de equilíbrio e de humildade, o desejo de possuir uma ciência onisciente que explique a realidade, que explique o ser humano. Todos os neuro-determinismos contemporâneos são insuficientes precisamente porque absolutizam, antropomorfizam um só dado da realidade complexa do homem. O ser humano é caracterizado pelo "mistério", que sempre se esconde e que, aliás, é a força e o próprio impulso da pesquisa científica.

Bento XVI dá conselhos sobre noivado, casamento e vida em família


Música, dança e muita alegria marcaram a Festa dos Testemunhos realizada na noite desse sábado, 2, no Parque Bresso, em Milão, onde estiveram presentes 350 mil pessoas. Lá, o Papa Bento XVI ouviu alguns testemunhos e respondeu a cinco perguntas feitas por uma menina vietnamita, um casal de noivos de Madagascar, uma famílias grega, uma americana e uma brasileira. 

“Gostaria muito de saber alguma coisa sobre a tua família e sobre quando era pequeno como eu”, disse a pequena Cat Tien, do Vietnã.


Bento XVI contou um pouco como era sua vida em família, como eles viviam o domingo, almoçavam juntos, cantavam e eram felizes com as pequenas coisas. 

“Em uma palavra, éramos um só coração e uma só alma, com tantas experiências comuns, também em tempos muito difíceis, porque era o tempo da guerra. Mas com este amor recíproco que existia entre nós e esta alegria, também pelas coisas simples, podíamos superar e suportar aquelas coisas”, salientou.


Passagem do noivado para o casamento

O casal de noivos, Serge Razafinbony e Fara Adriananombonana vieram de Madagascar, África, para estudar em Florença, na Itália, onde se conheceram. Noivos há quatro anos, eles contaram ao Papa se sentem feitos um para o outro, mas uma palavra os atrai e ao mesmo tempo os assusta: “para sempre”.

Muitos acreditam que o amor por si garanta o “sempre”, porque o amor é absoluto, quer tudo e assim também a totalidade do tempo: é “para sempre”. Infelizmente, a realidade não é assim. O Papa destaca que o namoro é lindo, mas talvez não sempre perpétuo, assim como o sentimento. Logo, a passagem do namoro ao noivado e depois ao matrimônio exige diversas decisões, experiências interiores.

“É lindo este sentimento de amor, mas deve ser purificado, deve andar num caminho de discernimento, isto é, devem entrar também a razão e a vontade; devem unir-se razão, sentimento e vontade”, aconselhou o Santo Padre.


Dificuldades econômicas

A família Paleologos, da Grécia, narrou a situação de dificuldade que vivem em meio a crise econômica, algo que tocou o Pontífice.

Mais que palavras de esperança, para Bento XVI, são necessárias ações concretas para ajudar as famílias em dificuldade.

“Busquemos que cada um faça o seu possível, pense em si, na família, nos outros, com grande senso de responsabilidade, sabendo que os sacrifícios são necessários para ir adiante”, pediu o Papa.

Como conciliar família e trabalho

Já o casal Jay e Anna Rerrie, pais de seis filhos, contaram que sentem dificuldade em conciliar o trabalho com a vida em família e pediram um conselho para o Santo Padre.

Para Bento XVI, estas são duas prioridades e os empregadores devem conceder um pouco de liberdade neste sentido, pois isso faz bem para a própria empresa, reforça o amor pelo trabalho. 

Além disso, é preciso um pouco de criatividade e isso não é sempre fácil, é preciso renunciar muitas vezes a própria vontade para estar junto à família, aceitar e superar os obstáculos do cotidiano.

Divórcio e segunda união

Por fim, o casal brasileiro, Manoel Angelo e Maria Marta Araújo expuseram a triste realidade dos divórcios.

“Somos casados há 34 anos e já somos avós. Na qualidade de médica e psicoterapeuta familiar encontramos tantas famílias, notamos nos conflitos de casal uma mais acentuada dificuldade para perdoar e aceitar o perdão, mas em diversos casos encontramos o desejo e a vontade de construir uma nova união”, contou Maria Marta.

Manoel salientou que alguns desses casais que se casam novamente gostariam de se reaproximar da Igreja, mas vêem negados os Sacramentos a eles e a desilusão é grande. Se sentem excluídos, marcados por uma sentença definitiva. 

“Santo Padre, sabemos que estas situações e que estas pessoas estão muito no coração da Igreja: quais palavras e quais sinais de esperança podemos dar a eles?”, perguntou Manoel.

Para Bento XVI, este problema dos casais em segunda união é um dos grandes sofrimentos da Igreja hoje e ela não tem receitas simples. 

“Eu diria que é muito importe saber, naturalmente, a prevenção, isto é, aprofundar desde o início, no namoro, numa decisão profunda, madura. Além disso, o acompanhamento durante o matrimônio, a fim de que as famílias não estejam nunca sozinhas, mas realmente acompanhadas em seu caminho”, disse o Pontífice.

Depois, destacou ainda o Santo Padre, é muito importante que essas pessoas em segunda união sintam que a Eucaristia é verdadeira e pode ser "recebida espiritualmente".

“Mesmo sem o recebimento ‘corporal’ do Sacramento, podemos estar espiritualmente unidos a Cristo no Seu Corpo. E fazer entender isso é importante, que realmente encontrem a possibilidade de viver uma vida de fé, com a Palavra de Deus, com a comunhão da Igreja”, ressaltou.



Papa em Milão: Reveja mensagens de Bento XVI às famílias e jovens


O Papa Bento XVI já retornou ao Vaticano após concluir sua viagem a Milão, na Itália, nesse final de semana, por ocasião do 7º Encontro Mundial das Famílias. A visita é considerada histórica por ser a mais longa feita por um Pontífice a uma cidade italiana. A ocasião foi especial também para os milaneses que há 28 anos não recebiam a visita de um Papa. 

O Santo Padre chegou a Milão na sexta-feira, 1º, e logo após sua chegada dirigiu-se a Praça Duomo, onde fez um discurso aos cidadãos, no qual lembrou as pessoas que enfrentam alguma dificuldade e pediu que não falte a elas a solidariedade da coletividade.


No mesmo dia, Bento XVI participou de um concerto em sua homenagem e às delegações oficiais do Encontro Mundial das Famílias no Teatro Scala de Milão. O Santo Padre assistiu a uma apresentação da nona sinfonia de Ludwig van Beethoven, seguida pela Orquestra e Coral do Teatro alla Scala, com direção do maestro Daniel Barenboim.

No sábado, 2, o Pontífice teve uma agenda cheia de atividades. Logo pela manhã, celebrou uma Missa privada na Capela do Arcebispado de Milão, em seguida, presidiu a celebração da Hora Média, na Catedral de Milão. Em sua homilia, o Sumo Pontífice destacou o dom precioso que é o sacerdócio e convidou os seminaristas a aprenderem e viverem bem seu tempo de preparação.

Ainda pela manhã, o Santo Padre encontrou-se com cerca de 80 mil jovens crismandos no Estádio Meazza, em San Siro, distrito de Milão. Em seu discurso à juventude, Bento XVI convidou os jovens a ter sempre ideais e buscar a santidade.

Na tarde do sábado, Sua Santidade dialogou com representantes das diversas autoridades institucionais, civis e militares, empresários e trabalhadores, do mundo da cultura e da educação da sociedade milanesa e lombarda. No encontro, o Pontífice se utilizou de alguns ensinamentos de Santo Ambrósio para falar sobre a importância da justiça e do amor no governo de uma nação.

E como última atividade da noite, o Santo Padre participou de um dos momentos mais aguardados no Encontro Mundial das Famílias: a Festa dos Testemunhos, onde respondeu a perguntas de uma criança, um casal de noivos e três famílias.

No domingo, 3, último dia da visita do Papa a Milão, o Santo Padre presidiu logo cedo a Missa para cerca de um milhão de fiéis e peregrinos no Parque Bresso. Na homilia, ele destacou que "somos chamados a acolher e a transmitir, concordes, as verdades da fé; a viver o amor recíproco e para com todos, compartilhando alegrias e sofrimentos, aprendendo a pedir e a dar o perdão, valorizando os diversos carismas sob a guia dos Pastores".

Em seguida, o Papa recitou o Angelus e anunciou que o próximo Encontro Mundial das Famílias será na Filadélfia, nos Estados Unidos, em 2015.

Depois do Angelus, Bento XVI almoçou com cardeais, bispos e cerca de 100 famílias. No fim do almoço, os cardeais Angelo Scola e Dionigi Tettamanzi entregaram-lhe, como presente, uma cópia do evangeliário ambrosiano, feito por um artista sob a direção de Dom Umberto Bordoni e que traz em sua capa uma representação iconográfica da Jerusalém celeste.

O Santo Padre agradeceu o presente e disse que era bom, no final, voltarem-se para a Palavra de Deus, que é “a chave para a vida, a chave para pensar e viver".

Ao se despedir dos fiéis reunidos na cidade italiana, Bento XVI destacou que "a Igreja é viva mesmo diante das dificuldades porque Jesus é o Senhor da história". O Santo Padre retornou ao Vaticano no fim da tarde desse domingo.  



Vaticano: Congregação para a Doutrina da Fé condena obra de religiosa norte-americana sobre moral sexual


VATICANO, 04 Jun. 12 / 02:09 pm (ACI/EWTN Noticias)

A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) no Vaticano, com a aprovação do Papa Bento XVI, condenou o livro "Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics" (Só Amor: Um marco para a ética sexual cristã) da religiosa Ir. Margaret A. Farley, ex-superiora geral da congregação ‘Sisters of Mercy of the Americas’ (Irmãs da Misericórdia das Américas),  no qual se promove a masturbação, os atos homossexuais, as uniões homossexuais e o divórcio.

Por sua importância, ACI Digital reproduz em sua integridade a notificação divulgada hoje pela CDF e assinada pelo seu Prefeito o Cardeal William Levada:

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

Notificação sobre o livro

Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics

de Irmã Margaret A. Farley, R.S.M.

Introdução

A Congregação para a Doutrina da Fé, depois de um primeiro exame do livro da Irmã Margaret A. Farley, R.S.M., Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics (New York: Continuum, 2006), endereçou à autora por meio dos bons ofícios de Irmã Mary Waskowiak, então Superiora Geral das Sisters of Mercy of the Americas, com carta de 29 de março de 2010, uma avaliação preliminar abrangente, indicando os problemas doutrinais presentes no texto. A resposta de 28 de outubro de 2010, enviada pela Irmã Farley, não foi suficiente para esclarecer os problemas indicados. Como o caso se referisse a erros doutrinários presentes num livro cuja publicação se revelara causa de confusão entre os fiéis, a Congregação decidiu empreender um "exame para casos de urgência", segundo o Regulamento para o exame doutrinal (cf. cap. IV, art. 23-27).

A propósito, depois da avaliação feita por uma Comissão de especialistas (cf. art. 24), a Sessão Ordinária da Congregação, em data de 8 de junho de 2011 confirmou que o livro em questão continha proposições errôneas, e que a sua divulgação implicava riscos de graves danos aos fiéis. Sucessivamente, com carta de 5 de julho de 2011, foi transmitida à Irmã Waskowiak a lista das proposições errôneas, pedindo que quisesse convidar a Irmã Farley a corrigir as teses inaceitáveis contidas no seu livro (cf. art. 25-26).

Com carta de 3 de outubro de 2011, a Irmã Patrícia McDermott, que entrementes se sucedera à Irmã Mary Wakowiak como Superiora Geral das Sisters of Mercy of the Americas, transmitiu à Congregação a resposta da Irmã Farley, acompanhada pelo próprio parecer e do de Irmã Waskowiak, em conformidade com o art. 27 do supracitado Regolamento. Esta resposta, avaliada pela Comissão de especialistas, foi submetida à Sessão Ordinária para discernimento, aos 14 de dezembro de 2011. Em tal ocasião, considerando que a resposta da Irmã Farley não esclarecia adequadamente os graves problemas contidos no seu livro, tomou-se a decisão de proceder à publicação desta Notificação.

 1. Problemas de caráter geral

A Autora não apresenta uma compreensão correta do papel do Magistério da Igreja como ensinamento autorizado dos Bispos em comunhão com o Sucessor de Pedro, que guia a compreensão sempre mais profunda, por parte da Igreja, da Palavra de Deus, como se encontra na Sagrada Escritura, e transmitida fielmente pela tradição viva da Igreja. Ao tratar de argumentos de caráter moral, Irmã Farley ou ignora o ensinamento constante do Magistério ou, quando o menciona ocasionalmente, o trata como uma opinião entre outras. Uma tal posição não pode ser justificada de modo algum, nem mesmo ao interno de uma prospectiva ecumênica que a Autora deseja promover. Irmã Farley revela outrossim uma compreensão defeituosa da natureza objetiva da lei moral natural, escolhendo antes de argumentar partindo de conclusões seletas de determinadas correntes filosóficas ou com a sua própria compreensão da "experiência contemporânea". Um tal modo de tratar não é conforme à genuína teologia católica.

 2. Problemas específicos

Dentre os numerosos erros e ambigüidades do livro, é mister chamar a atenção para as posições a respeito da masturbação, dos atos homossexuais, das uniões homossexuais, da indissolubilidade do matrimônio e do problema do divórcio e das segundas núpcias.

 Masturbação

Irmã Farley escreve: "A masturbação (...) geralmente não comporta nenhum problema de caráter moral. (...) Este é sem dúvida o caso de muitas mulheres que (...) encontraram um grande bem no prazer buscado consigo mesmas – e talvez exatamente na descoberta das suas próprias possibilidades em relação ao prazer -, algo que muitas nem tinham experimentado e nem mesmo conhecido no tocante às suas relações sexuais ordinárias com maridos ou amantes. Neste sentido, é possível afirmar que a masturbação de fato favorece as relações muito mais do que as obstacula. Por isso a minha observação conclusiva é que os critérios da justiça, assim como os apresentei até agora, pareceriam aplicáveis à escolha de provar prazer sexual auto-erótico somente enquanto esta atividade pode favorecer ou danificar, mantém ou limita, o bem-estar e a liberdade de espírito. E esta resta amplamente uma questão de caráter empírico, não moral" (p. 236).

Estas afirmações não são conformes à doutrina católica: "Na linha duma tradição constante, tanto o Magistério da Igreja como o sentido moral dos fiéis têm afirmado sem hesitação que a masturbação é um ato intrínseca e gravemente desordenado». «Seja qual for o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das normais relações conjugais contradiz a finalidade da mesma». O prazer sexual é ali procurado fora da «relação sexual requerida pela ordem moral, que é aquela que realiza, no contexto dum amor verdadeiro, o sentido integral da doação mútua e da procriação humana. Para formar um juízo justo sobre a responsabilidade moral dos sujeitos, e para orientar a ação pastoral, deverá ter-se em conta a imaturidade afetiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros fatores psíquicos ou sociais que podem atenuar, ou até reduzir ao mínimo, a culpabilidade moral."1

 Atos homossexuais

Irmã Farley escreve: "Do meu ponto de vista (...), as relações homossexuais o os atos homossexuais podem ser justificados, de acordo com a mesma ética sexual, exatamente como as relações e os atos heterossexuais. Por isso, as pessoas com inclinações homossexuais, assim como os seus respectivos atos, podem e devem ser respeitados, indiferentemente de haver ou não a alternativa de serem diferentes" (p. 295).

Tal posição não é aceitável. A Igreja Católica, de fato, distingue entre pessoas com tendências homossexuais e atos homossexuais. Quanto às pessoas com tendências homossexuais, o Catecismo da Igreja Católica ensina que as mesmas devem ser acolhidas "com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta".2 No entanto, quanto aos atos homossexuais o Catecismo afirma: "Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados".3

 Uniões homossexuais

Irmã Farley escreve: "Legislações sobre a não discriminação dos homossexuais, como também sobre os casais de fato, as uniões civis e os matrimônios gay, podem ter um papel importante na transformação do ódio, da marginalização e da estigmatização de gays e lésbicas, o que se reforça ainda hoje com ensinamentos a respeito do sexo "contra a natureza", desejo desordenado ou amor perigoso. (...) Uma das questões mais urgentes do momento, diante da opinião pública dos Estados Unidos, é o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo – equivale a dizer a concessão de um reconhecimento social e de uma qualificação jurídica às uniões homossexuais, sejam masculinas ou femininas, comparáveis às uniões entre heterossexuais" (p. 293).

Tal posição é oposta ao ensinamento do Magistério: "A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. O bem comum exige que as leis reconheçam, favoreçam e protejam a união matrimonial como base da família, célula primária da sociedade. Reconhecer legalmente as uniões homossexuais ou equipará-las ao matrimônio, significaria, não só aprovar um comportamento errado, com a consequência de convertê-lo num modelo para a sociedade atual, mas também ofuscar valores fundamentais que fazem parte do patrimônio comum da humanidade. A Igreja não pode abdicar de defender tais valores, para o bem dos homens e de toda a sociedade".4 "Em defesa da legalização das uniões homossexuais não se pode invocar o princípio do respeito e da não discriminação de quem quer que seja. Uma distinção entre pessoas ou a negação de um reconhecimento ou de uma prestação social só são inaceitáveis quando contrárias à justiça. Não atribuir o estatuto social e jurídico de matrimônio a formas de vida que não são nem podem ser matrimoniais, não é contra a justiça; antes, é uma sua exigência".5

 Indissolubilidade do matrimônio

Irmã Farley escreve: "A minha posição pessoal é que o empenho matrimonial seja sujeito à dissolução pelas mesmas razões fundamentais pelas quais todo empenho permanente, extremamente grave e quase incondicionado, pode cessar de exigir um vínculo. Isto implica que existam de fato situações nas quais as coisas mudaram demais – um ou os dois partner mudaram, a relação entre eles mudou, a razão original do seu compromisso recíproco parece completamente extinta. O sentido de um compromisso permanente é ademais exatamente aquele de vincular a despeito de todas as mudanças que podem aparecer. Mas é possível de sustentá-lo sempre? É possível sustentá-lo apesar de mudanças radicais e imprevistas? A minha resposta é: às vezes não é possível. Às vezes a obrigação pode ser desfeita e o compromisso pode ser legitimamente modificado"(págs. 304-305).

Uma opinião semelhante está em contradição com a doutrina católica sobre a indissolubilidade do matrimônio: "Pela sua própria natureza, o amor conjugal exige dos esposos uma fidelidade inviolável. Esta é uma consequência da doação de si mesmos que os esposos fazem um ao outro. O amor quer ser definitivo. Não pode ser «até nova ordem». «Esta união íntima, enquanto doação recíproca de duas pessoas, tal como o bem dos filhos, exigem a inteira fidelidade dos cônjuges e reclamam a sua união indissolúvel». O motivo mais profundo encontra-se na fidelidade de Deus à sua aliança, de Cristo à sua Igreja. Pelo sacramento do Matrimônio, os esposos ficam habilitados a representar esta fidelidade e a dar testemunho dela. Pelo sacramento, a indissolubilidade do Matrimônio adquire um sentido novo e mais profundo. O Senhor Jesus insistiu na intenção original do Criador, que queria um matrimônio indissolúvel. E abrogou as tolerâncias que se tinham infiltrado na antiga Lei. Entre batizados, o matrimônio rato e consumado não pode ser dissolvido por nenhum poder humano, nem por nenhuma causa, além da morte"6.

 Divórcio e segundas núpcias

Irmã Farley escreve: "Se há filhos do matrimônio, os ex-cônjuges deverão ajudar-se reciprocamente por anos, talvez por toda a vida, no projeto familiar empreendido. De qualquer modo, as vidas de duas pessoas uma vez casadas continuam marcadas pela experiência do matrimônio. A profundidade daquilo que resta admite graus, mas algo resta. No entanto, aquilo que resta impede um segundo matrimônio? Acho que não. Qualquer tipo de obrigação que implique um empenho não deve incluir a proibição de um novo matrimônio – pelo menos não tanto quanto a ligação atual entre os esposos resulte numa tal proibição para quem continua vivo depois da morte do cônjuge" (p. 310).

Tal visão contradiz a doutrina católica que exclui a possibilidade de segundas núpcias depois de um divórcio: "Hoje em dia e em muitos países, são numerosos os católicos que recorrem ao divórcio, em conformidade com as leis civis, e que contraem civilmente uma nova união. A Igreja mantém, por fidelidade à palavra de Jesus Cristo («quem repudia a sua mulher e casa com outra comete adultério em relação à primeira; e se uma mulher repudia o seu marido e casa com outro, comete adultério»: Mc 10, 11-12), que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro Matrimônio foi válido. Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa situação objetivamente contrária à lei de Deus. Por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística, enquanto persistir tal situação. Pelo mesmo motivo, ficam impedidos de exercer certas responsabilidades eclesiais. A reconciliação, por meio do sacramento da Penitência, só pode ser dada àqueles que se arrependerem de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo e se comprometerem a viver em continência completa."7

 Conclusão

Com esta Notificação, a Congregação para a Doutrina da Fé expressa profundo pesar pelo fato de que um membro de um Instituto de Vida Consagrada, a Irmã Margaret A. Farley, R.S.M., afirme posições em contraste direto com a doutrina católica no âmbito da moral sexual. A Congregação previne os fiéis de que o livro Just Love. A Framework for Christian Sexual Ethics não é conforme à doutrina da Igreja e portanto não pode ser utilizado como válida expressão da doutrina católica nem para a direção espiritual e formação, nem para o diálogo ecumênico e inter-religioso. A Congregação deseja além disso encorajar os teólogos a fim de que prossigam na tarefa do estudo e do ensinamento da teologia moral em plena conformidade com os princípios da doutrina católica.

 O Sumo Pontífice Bento XVI, durante a Audiência concedida ao abaixo assinado Cardeal Prefeito, em data de 16 de março de 2012 aprovou a presente Notificação, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação em data de 14 de março de 2012, e mandou que se publicasse.

 Roma, da Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 30 de março de 2012.

William Cardeal Levada
Prefeito

domingo, 3 de junho de 2012

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE



I Leitura: Dt 4,32-34.39-40
Salmo Responsorial: Sl 32(33),4-5.6.9.18-19.20.22 (R/. 12b)
II Leitura: Rm 8,14-17
Evangelho: Mt 28,16-20 (Despedida na Galileia)

Queridos irmãos,

Hoje celebramos, após o Domingo de Pentecostes, a Solenidade da Santíssima Trindade. Muito embora a Páscoa já tenha sido encerrada no domingo passado com o hoje teológico do Pentecostes, a solenidade da Santíssima Trindade, quanto a sua data, depende de todo o caminhar temporal da Páscoa. Hoje a Igreja reflete acerca da essência trinitária de Deus: uma Única e Suprema divindade em Três Pessoas. Esta é a primeira de três solenidades conseguintes, já que, na próxima quinta-feira, toda a Igreja celebra a Solenidade de Corpus Christi; e, na sexta-feira da semana seguinte, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Cada uma destas três datas litúrgicas possui uma evidência peculiar, já que elas pretendem abarcar todo mistério da vida cristã da salvação, sintetizando, de certa maneira, a revelação de Jesus Cristo, da sua encarnação à morte, ressurreição, ascensão, bem como à doação do Espírito Santo. A solenidade de hoje nos convida à contemplação de um “céu aberto”, depois de uma revelação paulatina, mas profunda, de cada uma das Pessoas Trinitárias, inserindo-nos, com o olhar da fé, no mistério de um Deus, Uno na substância e Trino nas Pessoas.

A Oração de Coleta inicia apresentando-nos o Pai como o remetente da missão do Filho e do Espírito Santo: "Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito santificador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente". O Pai envia em missão o Filho e o Espírito com a finalidade de revelar ao mundo o seu “inefável mistério”. Mas, por que o Pai tem esta atitude? O Evangelho segundo São João é uma chave de resposta: “Deus tanto amou o mundo, que deu seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). É porque nos ama. É para que nos salvemos que Deus se revela. Porém, ao revelar sua glória Trinitária e Unidade onipotente, Deus nos vocaciona para o seio desta “Comunidade de Amor”, onde o Pai ama eternamente o Filho, o Amante Divino ao Eterno Amado (cf. Mt 3, 17; 17, 4; Mc 1, 11; 9, 7; Lc 9, 35; Jo 5, 20; Cl 1, 13; 2Pd 1, 17), ao tempo em que o Eterno Amado corresponde ao sentimento do Pai amando-o, fazendo inteiramente a sua vontade. Deste inesgotável intercâmbio, eis o Espírito Santo, o Amor, promotor desta relação misteriosa, porque é divina. É ainda vontade do Pai que a criatura humana seja inserida pelo Filho nesta “Comunidade”, embora pelo que, por nós mesmos, não tenhamos nada a acrescentar nesta sublime relação intratrinitária. Somos filhos pelo Filho, a salvação nada mais é do que este habitar eternamente no seio de Deus, Uno e Trino. Aí se encontra a plenitude da vida.

Na economia das Pessoas Trinitárias, Deus se revela. E, na plenitude dos tempos, encarna-se. Pela encarnação do Verbo não somos mais prejudicados pela visão da glória da divindade: Ele se abaixa à nossa condição, faz-se um de nós: Kénosis. Somente assim, contemplamos o seu rosto. Jesus é o rosto humano de Deus, como bem afirmara o Beato João Paulo II. É pelo conjunto kenótico (Encarnação, Vida, Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão) de Jesus, Deus Encarnado, que o homem é divinizado. Logo, o ser humano passa a ver Deus, herda a sua glória, co-habitando na Trindade. Mais do que Moisés, que vê o Senhor apenas pelas costas, pela vinda do Filho, vemos Deus por inteiro, tornamo-nos herdeiros de Deus.


Que o Amor trinitário (o Espírito Divino) nos invada e nos conduza à comunhão com a Trindade Santíssima, para que, desde já, nesta terra de exílio rumo à Pátria Definitiva nos irmanemos na comunidade cristã, imitando, com afinco, a doçura e harmonia das Pessoas Trinitárias.

Por Seminarista Everson Fontes